Este fim-de-semana teve de ser. Um dia no Shopping. Presentes de Natal e mais não sei quê. Mas desta vez foi toda a gente. Eu, o miúdo e a mulher. Fomos de manhã porque está visto que as pessoas não gostam de acordar cedo. Muito menos a feriados. Mas como eu já tinha levantado os ossos da cama às 7 da manhã para levar o cão a correr e a nadar na praia, não me importei nada de ir cedo ao shopping. Melhor assim. Porque mal cheguei estacionei logo e à porta. Nada daqueles passeios de parque de estacionamento atrás da procissão no -1 à procura do lugar perfeito só porque embirram que não querem estacionar no -2 ou no -3. Estacionamento fácil e aí vamos nós.
A 10 metros da Primark comecei a sentir arrepios e suor frio. O cheiro a borboto já se me adivinhava. Parámos à frente da porta. A minha mulher olhou para mim e sem dizer nada sorriu. Disse "
já volto" e desapereceu por entre a multidão. Eu com o meu filho ao colo mal tivemos tempo de nos despedirmos. "
Boa sorte e vai com Deus" foram as últimas palavras que lhe dissemos antes de ir. Sinceramente, cheguei a ter dúvidas que voltássemos a vê-la. Mas eu já a vi às compras. Aquilo é o John Rambo das compras. Virámos costas e fomos à nossa vida, eu e o filho.
Lojas de brinquedos, loja de skate, surfshop, loja de legos, volta de comboio, fizemos um bocadinho de tudo. Até que passámos um daqueles espaços de
babysitting para os miúdos ficarem e não enlouquecerem junto com os pais nas lojas. Perguntei-lhe se ele queria lá ficar. Disse logo que sim. Pensei "
óptimo, fica e eu despacho as minhas compras de Natal". Quando vou deixá-lo, reparo que não tinha a minha carteira. Nem identificação nem dinheiro nem cartão. Nada. E lembro-me que a minha mulher tinha ficado com ela. A minha mulher que estava na Primark.
Olhos virados para o céu, "
epá a sério Deus?". Vi-me levado a quebrar a minha jura. Decidi tentar entrar na Primark para encontrar a minha mulher. Eu e o meu filho. Antes disse-lhe "
filho, vamos entrar nesta loja. Não quero que largues a mão do pai nem um segundo. Temos que nos manter juntos se quisermos voltar a saír." Não foram precisos mais de 5 minutos para sentir que estávamos a brincar com fogo. Num feriado a 2 semanas do Natal aquilo era outro nível. Estávamos bem fora da nossa liga ali. Incapazes de lidar com a fúria dos borbotos, o meu filho vira-se para mim a implorar "
quero saír daqui pai. cheira a pó. esta loja cheira a pó." Ahhhh, tal pai tal filho. Eu disse-lhe, "
filho, vamos já saír. O pai só queria encontrar a mãe, mas já vi que isso não vai acontecer. Vamos embora".
Saímos e já cá fora tentei ligar-lhe. O telefone tocava, mas ninguém atendia. Pensei o pior. Mas felizmente devolveu a chamada logo de seguida. Digo eu: "
Estive aí... Não, está tudo bem... Preciso da minha carteira e ficaste com ela... Não consigo entrar outra vez... Sai tu por favor... Ok... Eu espero..."
Ficámos ali fora à espera. Eis que vejo a minha mulher a saír. Os olhos dela pareciam os de quem tinha acabado de dar na coca. Estendeu a mão com a carteira na minha direcção e disse com os olhos muita abertos e vidrados "
toma... vou voltar... nunca mais faço compras de Natal noutro sítio... acho que vou conseguir comprar tudo hoje..." e foi. Virou costas e voltou a entrar enquanto falava sozinha ainda com cotão agarrado ao cabelo.
Eu, bem, eu larguei a criança lá no espaço de
babysitting com um trampolim gigante. Agarrei em mim, sentei-me num sofá, mãos atrás da cabeça. Virei-me para o senhor que estava sentado no sofá ao lado cheio de sacos de compras aos pés e com ar desgraçado e disse-lhe com um sorriso: "Não adora as compras de Natal?"