Sexo. Tão bom. E tão tabu ainda. Dá gosto falar. Dá ainda mais gosto fazer. Mas sexo quando se tem um filho de 3 anos em casa. Difícil. Muito difícil.
Quando um amigo uma vez me disse "pá, esquece lá isso. quando fores pai vais ver que durante uns tempos não se passa nada", achei ridículo. Disse-lhe basicamente "ahahah. arranja-se sempre maneira".
Em parte eu tinha razão. Temos arranjado sempre maneira. Mas porra que tem sido difícil. O que era espontâneo, livre e intenso passou a ser uma missão estratégica, calculada e vá, intensa. É quase uma operação militar. Daquelas ultra-secretas. Explico.
Antes de ter filhos é tudo às claras. É quando se quer, quando apetece, onde se quer, como se quer e durante o tempo que se quer. Basicamente o céu é o limite.
Depois de ter filhos, o limite está em todo o lado. E de repente é preciso uma estratégia. E aqui entra a táctica militar das forças especiais. Sexo passa a ser assim:
- Primeiro passo é adormecê-lo. Parece fácil. Mas não é. Aliás, é das merdas mais difíceis que alguma vez tentei. Adormecer um puto de 3 anos devia ser um teste obrigatório para astronautas e assim. Já tentámos de tudo. Luzes apagadas, luzes acesas, ler histórias, com iPad, rezar, implorar, chorar. Só nos falta experimentar o livro "Go The Fuck To Sleep". A maior parte das vezes acabamos nós por adormecer na cama dele enquanto ele volta para a sala. Mas nas vezes que ele adormece, sinceramente, até me emociono quando penso nas vezes que o conseguimos adormecer.
- Com ele a dormir passamos ao segundo passo. Esperar que ele entre em fase REM. Aquele sono profundo quando começam com aqueles espasmos na cara e os tremeliques nas mãos. Esta fase é importante, porque dá maiores garantias que o miúdo não acorda e se depara com os pais em pleno porno ou em cenas difíceis de explicar sem a ajuda de um livro de yoga. Então ficamos muito quietos na sala. TV em mute. As luzes todas apagadas. Muito quietinhos. À espera. Como dois ninjas. Até ao momento que tenho de me levantar para ir à cozinha e me esqueço que tenho os comandos da TV no colo. E espalham-se pelo chão da sala com um tremendo estrondo. Pilhas a rolarem pelo soalho. F#$a-se. A seguir acontecem uma de duas coisas. Ou ele acorda e voltamos ao 1º passo. Ou ele não acorda e seguimos com o plano. Enquanto as pilhas rolam pelo chão, esperamos pacientemente que elas parem e ficamos à escuta. Há um movimento no quarto dele. Mas continua a dormir. Ufff. Passamos à fase 3.
- Nesta fase tentamos decidir o melhor sítio. Sentamos no chão com uma lanterna na mão e com uma planta da casa e estudamos as hipóteses. Tem de ser um sítio onde a probabilidade de sermos apanhados é menor. E que dê tempo de recompôr e disfarçar caso ele acorde e vá à nossa procura. Os primeiros sítios onde os putos procuram os pais quando acordam são o quarto dos pais, a sala, os wc e a cozinha. Então resta-nos a despensa, os roupeiros, a varanda ou terraço e a garagem. A varanda ou terraço dá visibilidade aos vizinhos. E apesar disso ser um turn on para alguns, não me apetece fazer shows públicos. Portanto, risca. A garagem significa que tínhamos de saír de casa e deixá-lo a dormir no quarto. Há quem faça coisas dessas, mas nós não. Por isso, risca. Sobra a despensa e os roupeiros. Como os roupeiros estão naturalmente cheios de roupa, dificulta a mobilidade. E como eu gosto de poder me mexer à vontade e à larga, risca. Sobra a despensa. Ora a despensa. A despensa é um sítio interessante. Depende de casa para casa, é certo, mas apesar de ser um sítio relativamente apertado tem prateleiras e caixas e cenas que o tornam interessante. A verdade é que quando chegamos a esta fase, sinceramente já me estou a cagar para isso. A nossa libido já acha tudo erótico.
- E passamos à fase boa. Ora isto é tal e qual as missões secretas militares. Todas a fases em silêncio e modo stealth para culminar num ataque repentino, intenso e rápido. {err, calma, rápido entre aspas}. O rasgar da roupa, o frenesi, a respiração ofegante, tudo com pausas a cada 2 minutos para tentarmos perceber se ele continua a dormir. Qualquer som põe-nos em estado de alerta: tum, tum, tum... -"espera, pára... tás a ouvir?" -"Estou. Parecem passos... Ah, não, esquece. É o meu coração a bater". E recomeça o frenesi. Ah, e orgasmos são um problema. Parece mentira eu estar a escrever uma coisa destas. Mas são. Por isso é sempre bom ter um pano à mão para tapar a boca na altura. Mais um ponto a favor da despensa. Normalmente há panos à mão.
É assim. Sexo quando se tem um filho de 3 anos em casa. Giro, né. Não é coisa que se fale muito por aí. Como se os pais fossem seres assexuados. Mas não somos. Muito muito longe disso. Portanto agora expliquei eu. Adormeçam-nos. Tenham a certeza que eles dormem. Encontrem uma despensa. E tenham um pano à mão.
Façam o que fizerem, sejam criativos. Mas não deixem de o fazer. Make love people.