Ontem tive uma conversa interessante com o meu filho sobre comer animais. Quando o vou buscar à escola e voltamos para casa, no caminho costumo lhe contar como foi o meu dia, o que fiz e o que almocei. Depois pergunto-lhe como foi o dia dele e o que ele almoçou. Ontem ele não estava para grandes conversas e portanto não lhe apetecia dizer o que almoçou. Respondeu "pão" naquela de me despachar. Tipo "deixa cá responder qualquer coisa a este gajo para ele não me chatear mais". Mas eu tenho o hábito de surpreender o meu filho com saídas inesperadas que dão lugar a conversas profundas. Mesmo quando não lhe apetece falar. E então a conversa seguiu-se assim:
Eu_ "só pão? pão com quê?
Ele_ "pão já disse"
Eu_ "Com gafanhotos?"
Ele_ "Gafanhotos?!" [cara de choque] "Quê?!"
Eu_ "Sim gafanhotos. Ou foram ratos?"
Ele_ [ainda em choque] "Ratos?!" [agora zangado] "Isso são animais! Animais não se comem!"
Eu_ "Não se comem? Achas que os animais não se comem?"
Ele_ "Claro que não! Depois ficam sem cara" [extremamente zangado]
Eu percebo o ponto de vista dele. Eu acho que ele ainda não percebeu que a carne e o peixe que ele come foram animais vivos outrora. Quando lhe aparecem no prato, não têm cara. Vêm em forma de bife cortadinho e douradinhos. Interiorizar que ele come animais, mexe com uma data de coisas que ele ainda não percebe. Ele só tem 3 anos. Habituou-se a ver ratos, vacas, cães, porcos, peixes e todos os animais com cara e personalidade. O Nemo, o Ratatouille, o rato Renato, a porca Pepa, a vaca que ri. Tudo animais com cara e personalidade. Comer animais é uma espécie de canibalismo no imaginário dele. Prontamente repudiado.
Bom, mas a conversa continuou e acabámos com algumas conclusões importantes. As aranhas não se comem porque picam. Mas teias de aranha já se podem comer. Essas não fazem mal. E as formigas também se podem comer porque não têm cara. Animais definitivamente não. Têm cara. Ovos também não. Têm pintinhos lá dentro.
Portanto, resumindo: nuggets não são de frango. São nuggets. Carne é de bife e não de vaca nem de porco. Frango não é galinha. O peixe que comemos é de pescada e de douradinhos e não dos peixes que estão a "dormir" nas bancadas da peixaria. Ovos que se comem são os de chocolate que trazem um brinquedo lá dentro.
Obviamente tudo isto tem de ser revisto mais lá para a frente. E das duas, uma. Ou vai interiorizar isto tudo muito bem, ou vamos ter um vegan em mãos. Mas por agora, com 3 anos, está muito bem assim. O que tem cara não se come. E ainda bem. Assim não corro o risco de ele querer comer caras de bacalhau. Odeio caras de bacalhau.
:D
ResponderEliminarahaha Adoro a inocência das crianças, apesar de serem muito pequeninos pode-ser ter conversas bem interessantes e intuitivas com eles. A forma como deu a volta à conversa foi brilhante. =)
ResponderEliminarAndreia
http://pontofinalparagrafos.blogspot.pt
Gosto do principio...o que tem cara não é para comer :)
ResponderEliminarAdorei este texto, fartei-me de rir eheh
ResponderEliminarÉ tão engraçado ver a perspetiva das crianças :)
rrss rrsss
ResponderEliminarO seu filho está na linha do general De Gaulle, que quando lhe davam galinha a uma refeição perguntava se era uma das da casa, porque "animais conhecidos, não se comem!"
Beijinhos para ele e um bom serão para si.
lindo! :)
ResponderEliminarParece-me justo, o que tem cara não é para comer!
ResponderEliminarA expressão do teu filho está fantástica. Ele vai ter tampo para perceber tudo e assimilar as coisas com naturalidade. A tua postura parece-me adequada.
ResponderEliminarhomem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
Muito bom. Como sempre:)
ResponderEliminarNunca ultrapassei esse complexo. Para mim, quase com 40, vaca é no prado, bife é no talho. Não existem cá misturas.
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