18/10/2013

OPERAÇÃO "ORGULHO"


Ainda ontem escrevi sobre como gostaria que o meu filho aprendesse definitavamente a ir ao WC para cocó e xixi. Não é que ele não soubesse já. Às vezes pedia. Outras vezes fedia. Mas pronto. Também já me tinham dito que os rapazes são mais demorados do que as raparigas neste processo de "potty training". Até em adultos temos essa reputação. Diz-se que "só fazemos m*#da", que "cagamos tudo" e que "mijamos fora do penico" mais que as mulheres. Mas ok. E para tentar contrariar essa tendência, tenho tentado que o meu filho aprenda a fazer o que tem a fazer no sítio certo para o fazer. Tem sido uma missão do caraças. O cocó foi mais rápido. Aprendeu a pedir para ir com 2 anos e meio (portanto há cerca de 6 meses). Apenas um pequeno retrocesso quando adoptámos o Charlie the lab (nosso labrador). Aí largou algumas poias no meio do chão. Mas já passou. Ele percebeu que isso era totalmente inaceitável. Mas o xixi tem sido mais difícil. Ele sabe que tem de pedir. Mas às vezes a vontade de continuar a brincar é maior e lá se descuida. Mudava de cuecas e calças umas 3 ou 4 vezes por dia. À noite fralda. Senão iam lençóis e tudo.

Tentámos de tudo. Tentei as estratégias pedagógicas. Operação Dr. Phil. Conversa, compreensão, tolerância, paciência. Nada. A seguir tentei as estratégias do Cesar Millan dos cães. Operação Calm Assertiveness. Calma, assertividade e reforço positivo. Nada. Mandei a psicologia e o Cesar Millan à fava e tentei a estratégia da CIA. Operação Potty Storm. Ameaça, pressão psicológica e chantagem. Nada. E aí tive um break-through. A ver as notícias surgiu-me a ideia da estratégia "dirigente de futebol corrupto". Operação Sanita Dourada. Segredo e suborno. Quando o deixava na escola, chamava-o e dizia-lhe que tinha um segredo para lhe dizer. E dizia-lhe ao ouvido bem baixinho "se não fizeres xixi hoje nas cuecas, o pai compra-te uma surpresa. se precisares de ajuda, fala com a Joana ou a Carina (educadoras dele). Não te esqueças, cuecas limpas e levas uma surpresa", seguido de piscadela de olho.

No 1º dia que o subornei, sucesso. Lá fui eu comprar uma surpresa. Neste caso um Chupa-Chups. No 2º dia que o subornei, cuecas molhadas. Pensei "já percebi. o gajo é esperto. tenho que subir a parada. ele já não vai fazer isto apenas por um chupa". E então subornei-o com uma Tartaruga Ninja. Sucesso. Lá fui eu ao Toys 'R' Us comprar o Donatello. No dia seguinte, sucesso novamente. Lá fui eu comprar o Raphael. Entretanto comecei a fazer contas. Só faltava comprar o Leonardo e o Michelangelo. Mas entretanto, ele começou subtilmente a sugerir que queria o Iron Man, o Hulk, o Mau (seja lá quem esse for), o Capitão America, o Pai das Tartarugas Ninja, o Thor e por aí fora. Isto ia sair mais caro do que a conta da água. E eu sem dar por isso estava já metido numa teia de corrupção difícil de saír. Refém das exigências dele alimentadas pelo meu suborno. Tive que pôr um fim a isto antes que fôssemos apanhados. E assim acabou. E os xixis nas cuecas voltaram. Frustrado, pensei que nunca ia ter fim. Sinceramente cheguei a visualizá-lo no futuro com 30 anos ainda a dormir de fralda.

Até que de repente, sem estratégia nenhuma, vou buscá-lo um dia à escola e ele vem a correr para os meus braços e diz-me "pai pai! não fiz xixi". Dei-lhe um abraço daqueles e congratulei-o efusivamente pelo feito. Mas pensei pra mim "olha-me este... este deve pensar que lhe vai calhar mais alguma tartaruga ninja". No dia seguinte, vou buscá-lo à escola e "pai pai! não fiz xixi". Mais um abraço apertado e mais congrats. Pensei pra mim "hmm. deve ser sol de pouca dura". No dia depois, outra vez "pai pai! não fiz xixi". Mais abraços e congrats. 3 dias seguidos sem xixi nas cuecas. Disse-lhe que tinha muito muito orgulho nele.

Esta noite passada, acordo às 3 da manhã com um sussurrar "pai pai. tenho que ir fazer xixi." Levanto-me e vou com ele à casa-de-banho. Ele de olhos fechados faz o que tem a fazer. Sacode. Lavamos as mãos. E aí vai ele. Olhos fechados tipo zombie direito para a cama. Deita-se sozinho e pede-me baixinho "Tapa-me pai. Tapa-me." Eu tapo-o com o edredon, dou-lhe um beijinho e volto para a cama. E penso "tudo o que ele precisava era saber que eu tenho orgulho nele"... E penso "será que isto resulta também com o meu cão? Se eu lhe disser que tenho orgulho nele, será que ele deixa de me comer a casa"?

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