14/02/2013

DIE HARD E O MOMENTO ZEN


Gosto de passar tempo com o meu filho. Fazer tudo com ele. Sou esse tipo de pai. Desde as coisas pedagógicas como desenhar, fazer puzzles, ajudar a arrumar os brinquedos espalhados. Até às mais anti-pedagógicas como jogar rugby dentro de casa, saltar em cima do sofá, esconder atrás de esquinas e pregar cagaços monumentais à mãe. Comigo ele tem oportunidade de crescer e aprender, com ele eu tenho oportunidade de ser infantil e inconsequente. É uma troca justa. E adoro cada um desses momentos passados com ele. Excepto um. Andar com ele pelo shopping. Um inferno. Aí a faceta de hooligan surge. Bom, não é bem hooligan porque ele não destrói nada nem se envolve em desacatos com os transeuntes. Mas parece um daqueles manifestantes anti-globalização que aparecem nas cimeiras dos G8, a correr desenfreadamente pelos corredores do centro comercial, a entrar em todas as lojas com cara de alucinado, a mexer em tudo e a tirar tudo das prateleiras. Eu pareço a força de intervenção atrás dele. A agarrá-lo e a prender-lhe os braços enquanto ele esperneia e grita pelos direitos. Ele solta-se e foge, lançando obstáculos das prateleiras para me bloquear a passagem. Eu vou me desviando dos objectos atirados e continuo no seu encalce. Os transuentes observam em choque com a mão na boca. E ele continua o seu percurso, a correr, sem poupar nenhuma loja. Continente, Imaginarium, H&M, Intimissimi, Benetton, SportZone. Nada escapa a este jovem idealista.

A perseguição é incansável. Tipo Bruce Willis. Fazemos apenas pequenas pausas para subir ou descer as escadas rolantes de mão dada com a música de Kenny G de fundo. E depois recomeça a nossa perseguição ao bom estilo do Die Hard. Isto é coisa para durar um bom par de horas. Até chegarmos ao Starbucks. Aí pára tudo. Encostamos nos sofás macios, respiramos fundo, cookie de chocolate numa mão e  milkshake noutra, e saboreamos aquele momento zen. Olhamos para as pessoas na azáfama das compras, abanamos a cabeça  e sorrimos um para o outro como quem diz "coitados, sempre a correr". E por momentos adoro estar com o meu filho no shopping. Acabamos de comer tranquilamente, limpamos a boca e saltamos do sofá. Ele olha para mim com aquele ar, sorriso no canto da boca, e desata a correr. Here we go again. Yippie ki-yay.