19/03/2013

O DIA


Ao acordar hoje de manhã fui recebido pelo meu filho de 2 anos com um "feliz natal pai". Nada poderia ter iluminado mais o meu dia. Obrigado filho. E feliz dia do filho para ti. Porque sem ti, não haveria o meu dia do pai. O dia é nosso. És o meu pequeno herói.

18/03/2013

WHERE IS HOME? 4 HISTÓRIAS E 1 RESPOSTA


HiSTÓRiA 1

Há uns anos recebi uma proposta de trabalho para Paris. Uma boa proposta. Oportunidade de carreira internacional e boas condições. Estava a minha mulher grávida na altura. Após muita reflexão e conversa, aceitei. Terminada uma reunião em Inglaterra, estava eu no aeroporto em Londres, pronto para regressar a Lisboa já com pormenores ultimados, quando recebo uma chamada da minha mulher. "Olha, não fiques preocupado, mas tive uma hemorragia e estou internada no hospital. Está tudo bem com o bebé. Vou ser transferida para a MAC". O mundo e a azáfama do aeroporto de Heathrow parou. Já sabíamos que ela tinha uma placenta prévia total e que isso representava um risco para mãe e filho em caso de hemorragia. Especialmente para o filho. O meu vôo para Lisboa foi a viagem mais demorada que alguma vez fiz. Quando cheguei, fui direto para o hospital e felizmente a situação estava estabilizada. Mas a novidade era que a minha mulher e o meu filho teriam de estar internados até ele nascer. Ela teria de estar deitada, sem se mexer, o máximo tempo possível. E as contrações teriam de ser vigiadas a toda a hora, porque em caso de nova hemorragia, teria de ir de urgência para o bloco operatório para o meu filho nascer. Então aquilo a que algumas pessoas chamariam um dilema, para mim tornou-se claro como a água. Não iria para Paris. E nunca iria deixar a minha mulher e filho internados para perseguir uma carreira internacional. O meu dia-a-dia a partir daquele momento foi casa-trabalho-hospital-casa. Todos os dias. Passava o serão com ela, ia para casa sozinho, xixi, cama. Os fins-de-semana eram passados com ela  no hospital a ver filmes no laptop, a conversar e a chatear-me com as auxiliares hospitalares. Passadas umas largas semanas de internada, deitada e sem se mexer, a minha mulher teve outra hemorragia. Esta ainda maior que as primeiras. E não parava. Em minutos foi levada para o bloco onde teve uma cesariana de urgência. Estava eu a trabalhar quando por volta das 16h30 recebo A chamada. "Estou a ter uma hemorragia enorme que não pára. Os médicos têm de o tirar agora. Ele vai nascer". Estava ela com 32 semanas de gravidez (mais ou menos 7 meses para quem como eu não faz contas às semanas). Demorei 10 minutos a chegar lá do trabalho. Quando cheguei, o Santiago tinha acabado de nascer. Nunca vou esquecer a imagem da enfermeira com ele nos braços a vir-me apresentar. Mas isso é outra história e fica para uma outra vez. Como nasceu prematuro e de urgência, cuidados intensivos com ele. Ficou internado mais umas quantas semanas a lutar pela vida. E o meu dia-a-dia continuou, casa-hospital-trabalho-hospital-casa. Já me perguntaram se alguma vez me arrependi ou se penso na oportunidade que perdi com a proposta de Paris. A minha resposta foi "NUNCA". Nunca me arrependi. Nunca senti que perdi uma oportunidade. E nunca mais pensei nisso. Sinto que ganhei uma oportunidade. Para estar com a minha família quando eles mais precisavam. Para ver e segurar a mão do meu filho no dia que nasceu. Para beijar a minha mulher e dizer-lhe que é a pessoa mais corajosa que conheci. Para estar cá "em casa".

HiSTÓRiA 2

A casa em que vivíamos era mínima. Para 2 pessoas que gostam de viver a cidade como eu e a Irina, era perfeita. 40m2. Estúdio. Em Alfama. Na baixa lisboeta. Não podia ser melhor. Íamos a todo lado a pé. Fotografia, passeios, window shopping, amigos, jantaradas, saídas, copos, sardinhas e febras, concertos, Santos, brunches junto ao rio, feiras. we did it all. Mas agora com o Santiago, um T0 de 40m2 num beco em Alfama tornava-se tudo menos ideal. Ainda lá vivemos os três durante uns meses. Andávamos os três por Lisboa a pé. O Santiago pendurado na mãe de sling já andava de metro e autocarro com 1 mês de idade. Mas tínhamos que mudar. Se Lisboa estava fora de questão pela logística e pelo preço das casas maiores, então Cascais era a outra opção. Perto de Lisboa e do trabalho. Mar. Surf. Praia. Verde. Bonita. Paredão para jogging e skateboarding. E mudámos. Com coração partido por deixar Lisboa, essa linda menina e moça, que tanto nos deu. Fizemos toda a mudança sozinhos, nós três. Carregámos todos os caixotes, mas também carregámos a certeza que iríamos adorar viver lá. Por ser Cascais, sim. Mas por sermos nós três, de certeza. E adorámos. Cada minuto.

HiSTÓRiA 3

Recentemente surgiu outra oportunidade de ir para fora. Desta vez para São Paulo. Devo dizer que estivemos com um pé lá. Mais uma vez, oportunidade de uma carreira internacional. E uma oportunidade de largar um país desgovernado por idiotas que não merecem a gente que tem e uma Europa caduca a viver um genocídio financeiro levado a cabo sabe-se lá por quem, uma vez que são tantas as hienas à volta dos cadáveres. Depois de muitas reuniões e entrevistas via Skype, de uma entrevista em Paris onde fui e vim no mesmo dia, de muitas contas feitas, muitos emails e Skype com amigos no Brasil (obrigado Meg e Leilane pela vossa preciosa ajuda), depois de tudo isto, decidi declinar. Apesar da muita vontade que eu tinha de ir. Não vou entrar em detalhes do porquê de não ir. Mas já me perguntaram se eu não me iria arrepender de perder esta oportunidade ou se fiquei triste de não ir. A resposta é a mesma de sempre. Nunca. Porque não sinto que perdi uma oportunidade. Sinto que ganhei uma oportunidade. De valorizar o que realmente importa na vida. De estar com a minha família. De sentir que tenho amigos dentro e fora do país. De tomar decisões dificéis quando o mais fácil para mim seria virar as costas a tudo e partir. Mas não o fiz pelo meu país. Vou deixar isso claro. Fi-lo pela minha família. Países há muitos. Família há só uma. E se um dia surgir uma oportunidade de saír do país em que isso seja o melhor para a minha família, vou. Não me sinto preso a lado nenhum. Venho de uma família de viajantes e nómadas que viveram em vários países durante a vida. Já faz parte do meu código genético.

HiSTÓRiA 4

Este país decidiu deixar-se violar por outros. Não vou entrar em conversas políticas, até porque não quero sujar este blog, mas as pessoas que desgovernam este país desde há muito, decidiram que vivemos todos bem demais e que devemos baixar o nosso nível de vida juntamente com o nosso orgulho e dignidade. E eu felizmente nem sou dos que mais me posso queixar, mas tive de fazer alguns ajustes. Porque nesta família de 3 somos todos teimosos como uma porta com mola e rejeitamos que nos baixem o orgulho e dignidade, decidimos manter a qualidade de vida mudando para um sítio mais barato. E assim dizemos adeus a Cascais onde vivíamos à distância de uma caminhada da praia. E vamos para a Ericeira onde vamos viver à distância de uma caminhada da praia. Dizemos adeus a uma cidade que nos últimos 2 anos nos deu muito bons momentos. Ondas, surf, praia, sushi, açorda, Santini, Americas Cup, feiras, patos e gaivotas, km's de jogging diurno e noturno à beira mar, burger king, pizzas do Gordinni, Maria Rita, Cool Jazz Fest, farmácias com drive-in, Starbucks, a escolinha do meu filho, amigos de todo o mundo em nossa casa (Diné e Leila, John e Erica, Nicole, Maria João, Carla e Ritinha, Nuno e Carmen e Constança, Ely, Cláudio, Nicolas, e por aí fora, obrigado por terem ficado connosco e terem dado ainda mais cor aos nossos dias e à nossa casa. São sempre bem-vindos seja onde fôr).

1 RESPOSTA

Depois de tantas hipóteses de sítios para viver, vamos mudar para a Ericeira. Por agora. Amanhã pode ser outro sítio. E pode não haver na Ericeira o que havia em Cascais. Como em Cascais não havia o que havia em Lisboa. E vice-versa. Como São Paulo não tem o que tem Paris. Nem Paris é São Paulo. Depois de já ter vivido em muitos lugares diferentes e até em países diferentes, e depois de já muito ter viajado, umas vezes com a família, outras com amigos e outras sozinho, sei que todos os lugares têm a sua beleza. Mas a maior beleza de todas é estar e sentir-se em casa. E para mim, isso é estar com a Irina e o Santiago. Seja onde fôr. There's no place like home. And home is us.


01/03/2013

ISTO FUNCIONA MAS NÃO SEI COMO


No meu último post disse que uma das coisas que aprendi ao ser pai foi que a benção com uma cegonha em origami resultava. Não me perguntem como, mas funciona. Deixo aqui as instruções. Boa sorte a dobrar 1000.


LEITE É LEITE


Esta semana pus-me a pensar sobre o quanto a ciência subestima o poder das pessoas. Vem isto a propósito de um post que li num blog de uma amiga, em que ela desabafava a angústia e desilusão de não conseguir amamentar o filho como esperava. É dar aí uma vista de olhos pelos livros e sites de especialidade e vemos o quanto impigem as pessoas com ideias pre-concebidas sobre o que deve ser feito e o que é melhor para ter um filho saudável e com fortes laços afectivos familiares. Parece que toda a gente sabe o que é melhor para os nossos filhos. Mesmo sem nos conhecerem. "Ai e tal o leite materno é fundamental. Ai e tal devem amamentar até o mais tarde possível. Ai e tal as aulas pré-parto e pós-parto. Ai e tal a alimentação. Ai e tal a música clássica na barriga". Arrisco-me a dizer que muitos destes especialistas não têm filhos. Ou então têm, mas passam tanto tempo no laboratório a estudar os filhos dos outros, que não acompanham os seus. Porque estas teorias que vendem livros a potes nas fnacs e na Amazon podem ser giras e tal, e até podem dar algumas dicas, mas estão longe de serem a verdade absoluta. Como a minha verdade também não é absoluta. Mas é a minha. Baseada no meu caso. Não digo que algumas daquelas coisas que os especialistas dizem não façam sentido. Mas eu tenho algumas perguntas para fazer.

Srs. Especialistas:
  • Uma senhora chamada Klara amamentou o seu filho, um menino chamado Adolf Hitler até aos 3 anos. Alguma ideia sobre isto?
  • O meu filho nasceu de urgência, prematuro às 32 semanas, depois de uma hemorragia intensa, fruto de uma placenta prévia total. Esteve internado semanas nos cuidados intensivos, entubado e alimentado a soro pelo umbigo. Dormiu sozinho numa incubadora ao som de máquinas e monitores, levou oxigénio artificial, luz artificial e quase não bebeu leite materno. Cresceu à base de suplemento (pasmem-se, artificial). Portanto desafiou todos os conceitos de um nascimento equilibrado, harmonioso e de termo. Comme il faut. Então Srs. Especialistas, como é que o meu filho não nasceu com um sinal na forma de 666 e com o mau feitio do miúdo do The Omen?
  • "Música clássica é a melhor para os bebés" dizem. E que se deve evitar música pesada, punk, rap e grunge. Ora, o tal menino que falei atrás, o Adolf, adorava Wagner. Já o meu filho cresceu a ouvir Fugazi, The Clash e Mötley Crüe. A única vez que ele ouviu música clássica, foi Vivaldi e as Quatro Estações, quando eu liguei para a PT e pus em alta voz enquanto me deixavam em espera.
  • "As aulas pré-parto e pós-parto são fundamentais" dizem. Aceito que são úteis e até podem ser divertidas, não sei. Nunca as desaconselharia. Mas fundamentais? Antes de serem um negócio lucrativo, como é que os pais e mães de antigamente faziam? E eu Srs. Especialistas, não tive oportunidade de fazer uma única aula, como é que eu consegui mudar fraldas, dar-lhe banho, dar-lhe sopa, preparar-lhe o leite, ajudá-lo nas cólicas, adormecê-lo, etc.
Srs. Especialistas que escrevem livros, eis algumas coisas que aprendi ao ser pai:
  • Não vale a pena obssecar com planos, agendas e calendários porque de repente tudo pode mudar.
  • Expectativas só devem ser isso mesmo. Expectativas. Nunca devem ser condições. Esperar que uma coisa seja de certa maneira é uma coisa. Ter de ser dessa maneira é outra.
  • Leite pode ser facilmente substituido. O que não pode ser substituido é o amor.
  • A benção com uma cegonha em origami resulta. Não me perguntem como.
  • Ser um bom pai e uma boa mãe não se aprende em livros nem com teorias. Há uma fórmula. Mas vem de dentro. E depois vai se aprendendo com tentativa e erro.
  • E talvez a mais importante lição que aprendi é que o importante não é estar preparado para o que vai acontecer. É estar preparado para o que não era suposto acontecer. Se alguma coisa podemos esperar é que o inesperado vai sempre acontecer. De uma forma ou de outra.
Ah, e leite é leite. Só isso. Exemplo: eu bebo leite de vaca há uma porrada de anos e não é por isso que tenho laços mais fortes com elas.

Boas paternidades e maternidades para todos.