30/12/2013

HERÓI E PIRATA


É sabido que sou dado a tatuagens. E na semana passada fiz mais uma. Uma "sugar skull" de homenagem ao meu avô (caveira decorada e feliz que na tradição mexicana celebra a vida e honra a pessoa falecida). Já faz alguns anos que morreu num acidente. Uma merda sem jeito nenhum. Mas assim foi. E ainda hoje morro de saudades dele. Queria tanto que ele e o meu filho se tivessem conhecido pessoalmente. Iam se adorar. Tenho a certeza. Era impossível não se adorar o meu avô. E por isso fiz a tatuagem. Juntamente, tatuei 2 objectos que andavam sempre com ele e que eu herdei. O canivete e o relógio. O canivete que ele usava para tudo. Para cortar pão. Para cortar ramos de árvores para me fazer um arco e uma flecha. Para abrir nozes. Para comer uma maçã. Servia para tudo. Para mim representa mais que o simples canivete que ele carregava no bolso. Representa a versatilidade do meu avô. Representa todas as coisas diferentes que ele sabia fazer. Representa o seu talento e paixão de trabalhar com as mãos. E transformar uma coisa simples num acto mágico.
Tatuei também o relógio (apesar de ainda faltar tatuar os ponteiros e as horas, mas já não aguentava mais e ficou para a 2ª sessão). O relógio foi lhe dado quando vivia nos Estados Unidos. Foi lhe dado como prémio na fábrica onde trabalhava ainda eu não era nascido. Nunca mais o tirou. Até ao dia da sua morte. Lembro-me de o ver todas as manhãs a dar corda ao relógio enquanto bebíamos yerba mate juntos. Era motivo de orgulho aquele relógio. O símbolo do empenho e do trabalho. Da coragem de ter saído da Argentina e ter ido para um país (EUA) onde não falava a língua e do qual nada conhecia. Símbolo do reconhecimento. Também herdei esse relógio. Que para mim simboliza a humildade, o trabalho, o sangue e o suor. Simboliza o orgulho no que se faz e no que se é.

Carrego no peito, por dentro e por fora, a aura de um homem fora de série. De um herói que me protege e olha por mim a cada passo da minha vida. Que me lembra do que é feito o carácter.
Um homem que me ensinou pequenas grandes coisas. A imagem pela qual me tento moldar. Um homem humilde. Trabalhador e lutador. De uma honra inabalável. De uma bondade e coração sem limites nem fronteiras. Adorava uma boa partida. E fazia rir todos. De forma muito fácil. Era quase magia. Sempre admirei como raras vezes se queixava de alguma coisa. Educou-me durante uma boa parte da minha vida. Cresci com ele. Passou-me valores que hoje fazem parte da fibra da minha pessoa. Ensinou-me tudo o eu que precisava de saber. Ensinou-me a jogar ao pião. A plantar uma árvore. A apanhar fruta. Com ele aprendi a usar um martelo, um serrote, um machado. Aprendi a rachar lenha para a lareira. A escolher a melhor. Ensinou-me a fazer armadilhas para apanhar ratos e toupeiras sem os matar. Ensinou-me a malhar feijão. A fazer uma fisga com um ramo de marmeleiro, um bocado de couro e uma câmara de ar de um pneu. Ensinou-me a diferença entre pardais, pintassilgos e verdilhões. Ensinou-me a relativizar os problemas. Que não valia a pena nos chatearmos com a vida e com as pessoas. Com ele bebia yerba mate todas as manhãs. Jogávamos à bola. Andávamos de bicicleta. Víamos os combates de boxe juntos. Com ele ia apanhar polvos. Ensinou-me a lixar, a envernizar e a pintar. Ensinou-me como pegar e carregar uma saca de batatas às costas sem as partir. E adorava as tardes passadas a lavar garrafas, para depois as encher com o vinho caseiro que guardava nas pipas. Ficava orgulhosamente ao lado dele na missa ao domingo. Lá em cima naquela varanda onde ficavam os homens. Por isso tudo fiz esta tatuagem.
Obrigado por tudo. Que foi tanto, sem que eu nunca tivesse que pedir nada. Obrigado Avô. Obrigado Viejo.

Tenho tanta pena do meu filho não ter um avô assim. Já o disse algumas vezes. Mas a vida é assim mesmo. Para compensar, costumo dizer em brincadeira que sou pai-avô. E para me convencer que isso até pode ser fixe, relembro que o Brad Pitt que fez agora 50 anos, teve filhos com 45, portanto ele também um "pai-avô".

Voltando ao meu avô. Para mim ele é e será sempre o meu herói.
Para o meu filho, ele é alguém que está lá em cima "nas estrelas ao lado de Jesus", como ele diz. E talvez um pirata. Porque é isso que o meu filho vê quando olha para a minha tattoo. Que o bisavô "é um pirata" que está lá em cima "nas estrelas com Jesus". Pois eu acho que era assim mesmo que o meu avô gostaria de ser lembrado.

15/12/2013

A ENTREVISTA



A minha mulher faz anos hoje. 30 para ser mais exato. Tivemos uma noite épica de celebração ontem até às altas horas da madrugada. Mas apesar da inesquecível celebração, sinto que chegar aos 30 foi para ela um marco levemente tingido com angústia (sente que passou para a maioridade e que já não é a pita que um dia foi). Nada mais falso. E para o provar, decidi entrevistar a pessoa que mais a adora e saber o que ele tem a dizer dela. Fica aqui a entrevista.

Happy Birthday baby. And Happy Wishes.

11/12/2013

PAIXÃO COM PAIXÃO SE PAGA


Adoro ver gente apaixonada. A paixão é o que move este mundo. Estou convencido disso e não vale a pena dizerem-me o contrário porque não acredito noutra coisa. Sou teimoso. E sou por natureza uma pessoa com muita paixão. Não sei fazer as coisas doutra maneira. Sou assim em tudo. Amo de forma apaixonada. Corro de forma apaixonada. Faço surf de forma apaixonada. Escrevo de forma apaixonada. Sou pai de forma apaixonada. Discuto de forma apaixonada. Sou assim. Para o melhor e para o pior. Não acredito em meio termos. Comida insossa não me satisfaz. Gosto de tempero. Quem me conhece já sabe o que a casa gasta. Quem não me conhece não sabe o que lhe espera. É assim. Ou sopas. Que por acaso também gosto com muito tempero. Com esta paixão toda vem uma factura. Espero paixão dos outros. Sempre. Sofro apaixonadamente. Zango-me apaixonadamente. Desiludo-me apaixonadamente. Tudo para mim é um acontecimento épico. Recentemente passei por uma desilusão de dimensões épicas. Desiludi-me e entristeci-me tão apaixonadamente que ainda hoje tenho ecos disso no peito e na cabeça. Mas gosto de ser assim. Faz de mim quem sou. O meu filho é assim também. Apaixonado pelas suas coisas. Apaixonado nos seus abraços. Apaixonado nas brincadeiras. Apaixonado nas birras. Apaixonado para o melhor e para o pior. Gosto dele assim. No meio disto tudo, nós entendemo-nos. Brincamos apaixonadamente. Rimos e choramos apaixonadamente. Dançamos e cantamos apaixonadamente. Vivemos apaixonadamente. Entendemo-nos nas nossas paixões. Por isso quando me desiludi recentemente de forma épica e apaixonada e o meu filho me viu no meu drama pessoal, olhou-me nos olhos e perguntou "tás triste pai?" e de forma apaixonada abraçou-me e ficou a fazer-me uma festa no cabelo. Com 3 anos ele percebe-me. A paixão com paixão se paga.

BLOGS I F#*KING LOVE: A CIÊNCIA DO ARQUEOLOJISMO


De volta aos blogs que mais adoro. Este é um deles. A Arqueolojista é uma menina com uma missão. Descobrir lojas antigas. Caçá-las. Com estilo. E depois dar a conhecer. É nesta ciência que se especializa esta arqueolojista. E há de tudo. Lojas de conservas, tascas, restaurantes, retrosarias, livrarias, drogarias, chapelarias. Tudo de um pouco por este nosso país. As fotografias são apaixonantes. As histórias também.
Sou apaixonado pelo blog porque quando era miúdo tinha o sonho de ser arqueólogo. Um pequeno Indiana Jones. Adorava a sensação de descoberta e aventura. Ainda hoje sou assim. E o meu filho segue os meus passos. Descobrir pequenas "pérolas e diamantes" perdidos pelas ruas e becos das nossas cidades é uma aventura em que também embarco, apesar de não fazê-lo como profissão.
ela é uma arqueolojista. À séria. Uma Indiana Jones com fashion sense à procura de manter a tradição viva. Porque a tradição ainda é o que era. É preciso é descobri-la.

É clicar em cima da foto que já vão ver.

10/12/2013

COMO TER UM FILHO EM 3 PASSOS DIFÍCEIS. PASSO 3: O PARTO E O RESTO


O parto. Ah, o parto. Hoje em dia é um evento familiar. Mãe a soprar e a fazer força enquanto agarra a mão do pai. Pai de bata hospitalar a tentar filmar o acontecimento sem desmaiar. Equipa médica concentrada mas de sorriso a ajudar o mais novo a vir cá pra fora da melhor maneira possível. Sai o bebé e colinho da mãe com ele, ainda cheio de nhanha e tudo. Mãe de lágrimas nos olhos com a sua cria deitada no peito. Pai pálido filma o momento. Ah, o parto. Nos filmes é assim. Mas sabemos bem que na vida real não rola bem desta maneira. O nosso filme então foi bem bem diferente. O que nos leva para o 3º e último passo de como ter um filho em 3 passos difíceis. O nosso filme rolou assim:

Passo 3: O parto e o resto.

Arranquei logo que recebi a chamada da minha mulher a dizer que se estava a esvair em sangue, que a equipa médica não conseguia parar a hemorragia e que tinham de tirar o meu filho já. Para salvar a sua vida e a da mãe. Estava ela com 7 meses de gravidez. 32 semanas para ser mais exato.
Estacionei no primeiro lugar que me apareceu. E caguei para o ticket de estacionamento. Não tinha tempo para a EMEL. Entro na MAC e pergunto por ela. Olho para a cama onde ela costumava estar e estava vazia. Já sem lençóis e sem nada. Uma auxiliar entrega-me dois sacos pretos enormes cheios com os pertences da vida dela na MAC. Telemóvel, roupa interior, pijamas, laptop, DVDs, garrafa de água, diário, agenda, auricular, carregadores, fotografias. Todo o "mobiliário" dos últimos meses. A auxiliar leva-me até à porta do bloco operatório onde o milagre estava a acontecer. E ali fico. À porta, sozinho, sentado, com 2 sacos pretos enormes. Ninguém mais estava lá. Só eu. E o meu coração a bater na garganta.

Até que sai uma médica pela porta. Não tinha mais de 35 anos. Ou então estava muita bem conservada. Pára e olha para mim. Tira a máscara e aproxima-se com cara séria. Eu levanto-me e ela pergunta-me "é o pai?". Eu respondo que sim, sou. Ela sem nunca tirar a poker face estica-me a mão e diz "parabéns, tem ali um belo rapaz". Confesso que me caíram as lágrimas. Ela diz-me "só um bocadinho que a enfermeira já fala consigo". E foi-se. Passado 1 minuto, saíram pela porta os restantes médicos. Eram uns 3 ou 4. Já não me lembro bem. Todos eles passaram, deram os parabéns sem parar e seguiram pelo corredor na conversa. Eu e os meus sacos ficámos ali à espera em pé, olhos fixados na porta. Ao que sai uma enfermeira com um bebé nos braços. Chega ao pé de mim e conheço o meu filho pela primeira vez. De todos os momentos mais emocionais que tive na vida, este foi sem dúvida o mais emocional. "É o seu menino" diz ela. "Parabéns pai. Correu tudo bem. Nasceu com Apgar 9, pai". Enquanto ela falava eu não tirava os olhos dele. Queria abraçá-lo mas não podia. Eu tinha acabado de vir da rua, não estava desinfetado e ele estava fragilizado com as suas 32 semanas de vida e 1,9 kg de peso. Mas os meus olhos e a minha alma abraçavam-no e não o largavam. Era tão parecido comigo que fazia impressão. Só que com menos cabelo e sem barba. Lembro-me que tive uma sensação incrível, como se me estivesse a ver a mim próprio quando nasci. Uma espécie de déjà vu. Diz a enfermeira "peço desculpa pai, mas tenho de o levar já para os cuidados intermédios. Depois pode lá ir ter para vê-lo. A sua mulher está a recuperar da anestesia e já a pode ver daqui a um pouco. Aguarde só um pouco". E seguiu com o meu filho pelo corredor a caminho da Unidade de Cuidados Intermédios. Fico ali. Os sacos e eu com lágrimas nos olhos. Ao que passados uns 5 minutos aparece uma enfermeira à porta com a minha mulher deitada numa maca. Vou direito a ela, dou-lhe um beijo e digo-lhe que a amo. Que é a mulher mais corajosa que conheço. E que correu tudo bem e que já vi o nosso filho. Ela ainda com a moca da anestesia geral, pergunta-me onde ele está. Eu explico-lhe que foi para a UC Intermédios mas que está tudo bem. Ela pergunta-me se ele é bonito. Eu digo-lhe que é de certa forma parecido comigo. Ela grita "O MEU FILHO É LINDO" a chorar e ainda drogada. A enfermeira interrompe dizendo que a tem de a levar para a sala de recuperação, que ela ainda está muito fraca. Tinha perdido muito sangue e ainda estava a sair do efeito da anestesia geral. E enquanto a enfermeira empurra a maca pelo corredor fora vou ouvindo a minha mulher a gritar pelo hospital "O MEU FILHO É LINDO". Já tinha virado a esquina no fundo do corredor e eu ainda a ouvia. Foi das cenas mais lindas e hilariantes que vi na minha vida.

Vou a correr com os sacos atrás, direto para a UC Intermédios. Quando chego lá, já o meu filho estava na incubadora. Tubo no nariz, a dormir de barriga para baixo. E tirei-lhe a primeira foto. Fico ali. Apaixonado a olhar para ele. Cara grudada no vidro da incubadora como os putos fazem quando vão ao Oceanário.

Nota. As primeiras fotos na Unidade de Cuidados Intermédios




Entretanto a minha mulher recuperava da cirurgia e da anestesia geral. Tinha perdida muito sangue e portanto estava muito fraca. Só 6 horas depois é que teve autorização para ser levada de cadeira de rodas para ver o nosso filho pela 1ª vez. 6 horas depois ainda não tinha conhecido o filho. Lá foi ela no seu primeiro date com o Santiago. Não posso sequer imaginar o que sentia a caminho dos cuidados intermédios nem o que sentiu quando o viu pela primeira vez, sem poder agarrá-lo ou abraçá-lo. Ela já me tentou explicar. Mas faltam-lhe as palavras. Porque acho que não devem ter sido ainda inventadas. A meio da visita desmaiou. Estava ainda muito fraca. E foi levada de volta para a sala de recobro. No dia seguinte chego à MAC, bom dia e tal e vou direto à UC Intermédios. Chego lá e peço para ver o meu filho. A auxiliar vai à incubadora do meu filho e diz que ele já não está lá. Que tinha sido transferido para a UCI (Unidade de Cuidados Intensivos). Foi um soco no estômago. Perguntei o que se tinha passado. Ele diz que a médica já fala comigo. Então parece que os pulmões ainda estavam pouco maduros e não conseguia manter a respiração sem ajuda. Além disso, o peso dele tinha descido substancialmente porque ele não comia. Fui vê-lo à UCI. A UCI da MAC é incrível. Moderna e com uma apertada vigilância e monitorização 24 horas por dia. E lá estava ele. Todo entubado. Atado para não se mexer. Máscara de oxigénio na cara. Tubos no nariz e na boca. Sensores colados por todo o corpo. Agulhas espetadas nos braços minúsculos. Alimentado por um tubo pelo umbigo. Ainda hoje o meu coração aperta cada vez que me lembro do meu filho tão pequeno assim naquele estado. E eu sem poder fazer nada. O sentimento de impotência é avassalador. É contranatura. Então para colmatar a minha impotência, enchi o peito de fé, esperança e amor. E era o que eu lhe trazia todos os dias. Todos os dias lhe falava e dizia que tinha muito orgulho nele. Que ele era a pessoa mais corajosa do mundo. Que era o mais forte. E que eu e a mãe estaríamos sempre lá para ele. Tudo isto ao som dos beep-beep do monitores e do swoosh-swoosh do ventilador que lhe dava o oxigénio para ele respirar. Odiava aqueles sons. Ainda hoje quando os ouço só me lembro disso. Eu tornei-me especialista em ler valores nos monitores. Sentava-me lá ao lado e ficava a olhar ora para ele ora para os valores do monitor. Cada vez que os valores de O2 passavam abaixo de determinado limite que para mim era razoável, lá estava eu a chamar a médica. Fiz marcação cerrada à puta daquela máquina. E assim formam os dias seguintes.

Nota. Fotos da estadia nos UCI





Passados uns dias a minha mulher teve alta. Finalmente. Depois de semanas a fio internada podia sair. Quando entrou era verão. Fazia calor. E agora que ia sair, já o frio apertava. Mas ela pouco saboreou a saída. Porque o nosso filho ia ter de ficar. E já é difícil imaginar o que será para uma mãe ter um filho, completamente anestesiada, sem assitir a nada, ficar sem ele sem nunca o ter visto depois de ele ter nascido durante 6 horas. O difícil que será ficar acamada num quarto rodeada de mães com os seus filhos recém-nascidos ao colo e ela ali sozinha com o filho enfiado numa incubadora enrolado em tubos na UCI. Mas ter de sair daquele hospital e deixá-lo ali.... Voltar para casa sozinha comigo sem o nosso filho. Foi tremendo. Nunca vou esquecer os olhos dela enquanto voltávamos para casa. Há pouco tempo vi um video de um caso mais ou menos idêntico ao nosso, e há uma parte em que o marido filma os olhos da mulher quando voltam para casa sem o filho. E eu revi aquela cena exatamente.

E a nossa rotina continuava. Casa-MAC-casa. Tirei os dias a que tinha direito e passava os dias lá com minha mulher. Entretanto ele começa a melhorar. Começa a ganhar cada vez mais força e peso. E é finalmente transferido novamente para a UC Intermédios. E aqui fica durante mais alguns dias.

Nota. As fotos do regresso à Unidade de Cuidados Intermédios.




Passados alguns dias, ele é transferido para o Berçário. Acabou-se a incubadora. Acabaram-se os tubos, máquinas e monitores. Já tinha ganho peso e força suficientes para estar finalmente com os outros bebés. Antes ainda vi uma enfermeira tentar lhe tirar sangue para análises. Mas não encontrava a veia. Espetou-o em 4 sítios diferentes nos braços sem sucesso. Teve de lhe tirar o sangue pelo pé. Cada vez que ela espetava a agulha o meu coração rasgava. Mas estes putos são qualquer coisa de extraordinário. Incrível a resiliência e força deles. São mesmo uma força da natureza.

Agora já no Berçário as rotinas eram outras. Banhos já eram dados pela mãe (eu não dava porque adorava ver  a felicidade e amor estampados no rosto da minha mulher ao lavar o filho num recepiente do tamanho de um tupperware). O leite também já era dado pela mãe. Aconchego e colo. Palmadinha nas costas para o arroto da praxe. Tudo a que tinha direito. E assim foi até dia 15 de novembro. 20 dias depois de ter nascido. Conseguiu chegar ao peso mínimo aceitável para ter alta e foi o 1º dia que o levámos para nossa casa. O entusiasmo de levarmos a mala com a primeira roupinha que ele ia usar é difícil de pôr em palavras. Nunca vou esquecer a cara da minha mulher a fazer-lhe a mala. Foi um dos dias mais felizes das nossas vidas. Estava um frio de rachar lembro-me. Mas o calor que trazíamos no nosso peito era suficiente para aquecer toda a Lisboa.

E assim se fez um filho em 3 passos difíceis. Foi uma aventura do caraças. Um carrocel de emoções. Uma monumental tareia emocional. Podia ter sido muito pior é certo. E todos os dias agradeço a sorte e felicidade de ter corrido como correu. Todos os dias sinto-me abençoado. E sei que Deus esteve do nosso lado. A cada passo. Se podia ter sido mais fácil? Podia. Mas não era a mesma coisa.

E agora que estive a relembrar e a recontar toda esta história, quero agradecer:
  • a toda a equipa da MAC (médicos, enfermeiros, auxiliares e seguranças) que foram a nossa família durante aqueles meses. Aos médicos e enfermeiros por nunca terem desistido de nós nem de ninguém que lá estava.
  • às mães que lá estavam pelo apoio mútuo e pela partilha de fé, esperança, amor e histórias.
  • à minha mulher por ser a mulher mais corajosa, determinada e forte do mundo. És a melhor mãe do mundo e uma mulher do caraças. E ainda diz que passaria por tudo outra vez.
  • e ao meu filho, por nunca ter desistido, pela resiliência, pela força, por me ter ensinado o que é lutar pela vida sem nunca baixar os braços. Acho que ainda não tens bem noção, mas és o meu herói.


Só mais uma palavra à EMEL, pela multa que me deram à frente da MAC e que mesmo depois de eu ter explicado toda a situação, mostraram inflexibilidade e intransigência: ide para a puta que vos pariu. Não paguei a multa nem pago, que a esta hora já prescreveu.

06/12/2013

COMO TER UM FILHO EM 3 PASSOS DIFÍCEIS. PASSO 2: A GRAVIDEZ


A gravidez. São 9 meses. Ou 40 semanas. É uma experiência única e plena dizem algumas. Outras torcem o nariz quando se lembram do peso a mais, da dieta, dos diabetes gestacionais e dos pés inchados. Muitas fazem as aulas pré-parto. E a mala com umas mudas de roupa no dia que as contrações e dilatações começam a dar um ar da sua graça.

Para nós não foi bem assim. E assim passamos ao 2º passo de como ter um filho em 3 passos difíceis.

Passo 2: A gravidez.

As primeiras 20 semanas foram excelentes. Normais. Deu para fazer uma viagem a Veneza juntos e tudo. E ainda deu para tirar fotos giras. Até uma daquelas da praxe com as mãos a fazerem um coraçãozinho por cima do ventre. Também gostamos de ser pirosos de vez em quando.
Depois houve a hemorragia. E eu em viagem fora do país. A chamada chegou assim: "Não te preocupes. Estou internada porque tive uma hemorragia, mas está tudo bem com o bebé." Estava eu no aeroporto de Heathrow. Fui a um café, pedi uma água e mandei um ansiolítico para dentro. Depois a tortura de fazer a viagem de Londres com o telemóvel desligado. Cheguei a Lisboa, agarrei no carro e fui direto para o hospital. O diagnóstico: placenta prévia total. O prognóstico: internamento até ao nascimento do filho. Acamada. E sem se mexer durante o máximo tempo possível. Parto natural é pra esquecer. Vai ter de ser cesariana. Transferência para a MAC (Maternidade Alfredo da Costa).
E assim começou a 2ª metade da gravidez. A MAC foi a nossa casa durante os meses seguintes. Eu fazia casa-trabalho-MAC-casa sozinho todos os dias. A minha mulher acamada a tempo inteiro no hospital. Lavava-se como os gatos. E tinha arrastadeira debaixo da cama e tudo. Nível. As contrações eram monitorizadas a cada hora. E durante semanas foi assim. Saía do trabalho e ia direto para a MAC. Comprava-lhe um snickers, um croquete e uma garrafa de água de 2 litros no café e levava-lhe. Ficávamos ali na conversa até à hora de jantar. Era um dormitório para 8 camas. Estavam lá mais 7 mulheres. Todos casos idênticos. Alguns piores. Havia 2 televisões. Uma para 4 mulheres num lado do quarto. E outra para as outras 4 do outro lado do quarto. Estão a ver né. 2 TVs com 2 comandos para 8 mulheres. Todas grávidas. Era uma catástrofe à espera de acontecer. Havia mais tensão ali dentro do que na faixa da Gaza. Depois eu saía, ia comer qualquer coisa, passava no McDonalds do Saldanha e comprava-lhe um Menu Big Mac. Entrava com aquilo de surra e passava-lhe como se estivesse a visitar alguém na prisão. Deliciava-me a vê-la comer o hamburguer enquanto olhava por cima do ombro para ver se a auxiliar andava fazer a ronda. Épico. Mas depois o vazio. Sempre que chegava a hora de me ir embora. Voltar para casa sem ela e sem o meu filho não era voltar para casa. Mas assim era. Todos os dias voltava para casa mas sem voltar para casa. Até dia 27 de Outubro. Nesse dia recebo a chamada no trabalho. "Estou a ter uma hemorragia e não pára. Vão me levar para o Bloco agora. Ele vai nascer".

Nota. A última foto é do último Big Mac que ela comeu na noite antes do meu filho nascer. Vejam o prazer dela a comer. Fantástico.








05/12/2013

COMO TER UM FILHO EM 3 PASSOS DIFÍCEIS. PASSO 1: FAZÊ-LO


Ter um filho. Parece fácil. Umas velas, CD da Sade, garrafa de pinot noir. Ou então um capot de um carro numa noite de verão. E pronto. É esperar 9 meses e voilá. Fácil, né?

Nope. Nem por isso. Sim, felizmente para muita gente ter um filho é quase assim tão fácil. O maior contratempo é falhar no signo que se quer para o filho por apenas 2 dias, os quilos a mais que teimam em ficar ou a decisão de epidural ou não na hora H. Mas a verdade é que nem sempre é assim.

Para nós não foi bem assim. Durante os próximos 3 posts, vou explicar como é que se tem um filho em 3 passos difíceis. Vamos lá pelo princípio.

Passo 1: Fazê-lo.

Ah. A parte fácil e fun disto tudo, né. Basta deixar de tomar a pílula e cá vai disto. Nah. Isso assim era fácil demais. E não, não foi com CD da Sade, nem do Barry White. Não houve nenhuma garrafa especial de pinot noir reservada. Foram dias e noites a fio nisto, senhores e senhoras (yehaaa). Passou-se 1 mês, 2 meses, 3 meses, 4 meses... 1 ano, 1 ano e 1 mês, 1 ano e 2 meses... Epá, eu sinceramente perdi-lhe a conta. Nos primeiros tempos não se liga. Depois devagarinho começa-se a pensar "será que está tudo bem". Depois volta-se a tentar abstrair e a não pensar no assunto. Depois experimentam-se chás, vitamina E, barbatana de tubarão e rezas. Porra, se eu não o quisesse vinha de mão dada com a cegonha bater-me à porta. Pelo caminho experimentámos todas as posições possíveis e imaginárias. No princípio porque somos kinky. Mas depois já era para tentar encontrar a posição ideal para a fecundação. Tudo o que é de pernas para o ar é o ideal diz-se. Ainda bem que faço yoga, é o que tenho a dizer. Depois sempre que encontramos alguém conhecido na rua, lá vem a puta da pergunta "então e filhos, não vêm", "para quando um bebé", "já estão casados há 1 ano", "se começam a pensar muito depois nunca mais", "vá, só faltam vocês".
Epá, obrigado pela preocupação e pelas palavras de motivação. Sério. A todos. Mas f#$*-se, acham mesmo que preciso de motivação para fazer um filho com a minha mulher? O que eu preciso é que os meus espermatozóides deixem-se de merdas, encontrem o óvulo dela e entrem lá de uma vez por todas. Sem cerimónias nem "com licença". Ou então que o óvulo dela deixe de se fazer de difícil. Isso é o que preciso. Agora preciso lá de "então e filhos?" ou "vá, vamos, força que eles não aparecem sozinhos".
Depois de muita tentativa, muitos testes de gravidez, reclamações dos vizinhos e com ajuda divina: o resultado positivo. Recebi a notícia através de um gorro de bebé a dizer "I Love Dad". Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Finalmente podia descansar. E os vizinhos também.
Foi fun, lá isso foi. Mas fácil é que não foi. Agora experimentem lá perguntar-me "então e pra quando o segundo", que eu já vos atendo.

15/11/2013

GIRL TALK & PEP TALK

Girl talk entre a minha mulher e a BFF dela que também é a personal trainer dela. A verde está a minha mulher. A branco é a personal trainer. Priceless.


A minha interpretação da resposta da minha mulher baseada naquilo que a conheço:

Fuck u!!!: o que ela quer dizer é vou fazer 500 flexões com uma mochila de pedras da calçada às costas e depois de acabar vou te fazer engolir as pedras todas.

A popota agora é sexy por isso caguei: não querida. Sabemos bem que não. A Popota é uma hipopótama de tutu que dança kizomba. Sabemos bem que isso não é sexy. E sabemos bem que não cagaste, como dizes. Sei isso pela quantidade de salmão e arroz que puseste no meu prato ontem à noite. E sei bem que não estavas a levantar o sofá para procurar a chucha do miúdo. Ninguém faz isso em repetições de 15.

Bom treino para hoje, mulher.

Os americanos têm uma expressão chamada pep talk para conversas ou discursos que visam motivar ou aumentar a determinação e o entusiasmo para alcançar um objectivo. Às vezes traduzem-se por discursos longos e épicos como o de Al Pacino no filme Any Given Sunday. Para a BFF da minha mulher bastou uma frase.

08/11/2013

BOYS NIGHT


Yeah! Hoje a mulher vai prá jantarada com amigos. É boys night cá em casa. Eu, o Santiago e o Charlie. Vai ser uma noite épica. Alguém já viu o filme "Project X"? Yeah that's right.

AS PRIMEIRAS 2 HORAS E 1/2 DO MEU DIA




O meu dia começou assim.

06h30_ Saio de casa (ainda escuro) com o Charlie the lab (o cão) e vamos a pé até à praia. Chegamos lá e jogamos ao "apanha a bola".

06h45_ Vemos o nascer do sol na praia. Só eu e o Charlie. Mar está desordenado, portanto não preciso de faltar ao trabalho para surfar.

07h00_ Cruzo-me com a espanhola que costuma chegar à praia às 07h00 com su perro. Os cães brincam um bocadinho à apanhada um com o outro enquanto deitamos fora conversa de cão.

07h10_ Entro em casa com o cão e a mulher está já a acabar de vestir o miúdo na sala enquanto ele vê o "Chicken Little" pela centésima quinta vez.

07h15_ Faço uns alongamentos (tipo express yoga), peso-me e duche comigo.

07h40_ Banho tomado e já vestido, vou pentear o miúdo e meter-lhe um bocadinho de perfume do Batman. Um gajo tem que combater o mal sim senhor, mas sempre a cheirar bem.

07h55_ Agarramos nas tralhas todas (sacos, malas de computador, casacos) e saímos todos ao mesmo tempo.

08h00_ Ponho o miúdo na cadeirinha e seguimos caminho.

08h10_ Eu e o miúdo ouvimos o Markl nos Cromos da M80 falar dos grupos na escola nos anos 80.

08h23_ Ponho o CD dos Ramones e cantamos os 2 aos altos berros o "Blitzkrieg Bop" e o "Beat on the Brat".

08h27_ O meu filho pede-me para pôr os Ramones outra vez. "Outra vez o Hey Ho" como ele diz. Cantamos os 2.

08h31_ O meu filho pede-me para pôr os Ramones outra vez. Canta sozinho. Eu esfrego a cara.

08h35_ O meu filho pede-me para pôr os Ramones outra vez. Canta sozinho. Eu queria que os Ramones nunca tivessem existido.

08h40_ O meu filho pede-me para pôr os Ramones outra vez. Eu rezo para que o leitor de CD's do carro avarie.

08h42_ Chegamos à escola. Antes que possa desligar o carro, o meu filho avisa-me que a música ainda não acabou. Ficamos dentro do carro à espera que acabe. O meu filho canta. Eu estou debruçado sobre o volante a bater com a cabeça no tabelier.

08h45_ Tiro-o do carro e entramos na escola. Distribuo bons-dias por toda a gente e entrego-o à educadora. Dou-lhe um abraço e um beijo. Digo-lhe que o amo.

08h55_ Chego ao café. Peço um café. Quero pedir um bagaço também. E um bidão de gasolina. Para pegar fogo ao carro com o CD dos Ramones lá dentro.

*Nota. O video é de outro dia. O que significa que esta manhã já se repetiu vezes sem conta.

07/11/2013

O PRIMEIRO AMOR


Tenho 39 anos. E ainda me lembro do meu primeiro amor. Corria o longínquo ano de 1980. Tinha eu 5 anos. Andava na pré-primária. E tinha uma colega que parecia um anjo enviado para iluminar o mundo. Chamava-se Nancy. Sim sim, como a boneca. Parece mentira mas é verdade. Cabelos longos e louros. Tão brilhantes que era como se o sol estivesse sempre a brilhar nela. Olhos azuis cristalinos. Olhar-lhe nos olhos era mergulhar na lagoa azul. Cada vez que ela passava à minha frente, todo o som à minha volta era anulado. Só ouvia rouxinóis e canários numa manhã de sol. Tudo ficava em câmara lenta. E aquele perfume a Johnson & Johnson e a pó de talco que ficava a pairar no ar deixava-me em transe. Era um anjo a Nancy. Mas não me passava cartucho nenhum.

Um dia a turma foi toda num passeio escolar a um parque. Brincávamos todos no relvado imenso quando encontro uma flor no meio da relva. Era um malmequer. A única flor no meio daquela relva toda. Apanhei-a. As meninas andavam a brincar às princesas ou lá o que é que elas brincavam, quando duas me viram com a flor na mão. A Nancy e a Tânia. Vieram a correr ter comigo. A Nancy parecia uma das miúdas da Casa na Pradaria  a correr pelo campo em slow motion. A mesma música e tudo. A Tânia parecia mais o Tom Sawyer. Chegaram ao pé de mim e as duas pediram-me a flor.
Aqui começa o dilema. A Nancy, o anjo louro com olhos de diamante, o meu "primeiro amor". Pediu-me a flor. "É para eu pôr no cabelo" disse ela com uma voz que parecia acompanhada de harpas tocadas por outros anjos. A Tânia, uma menina comum, até a puxar um bocadinho para o feiinho, meio rapazola, também me pediu a flôr. "É para eu ser princesa" disse ela com voz de bagaço.
Meio perdido fico ali parado com a flor na mão a olhar ora para uma, ora para outra, sem saber muito bem o que fazer.

A Nancy, percebendo a minha hesitação, diz "eu dou-te um beijinho pela flor" enquanto rodava o seu lindo vestido branco folhado, joelinhos ligeiramente metidos para dentro. Sacanita. Perecbeu que eu embeiçava por ela e já estava a usar todo o seu charme para conseguir o que queria.

A Tânia, menina simplória e introvertida, pouco dada a essas coisas do charme e do encanto, mete a mão ao bolso das suas jardineiras cagadas, e tira um sapo em miniatura de brincar. Diz-me "eu dou-te o meu sapo pela flor".

Xiiiiiii. Situação do caraças. Sabem o que eu fiz? Difícil esta decisão né? Pois é. Um puto com 5 anos já a passar por um dilema destes. Caramba. Um dia conto-vos o que fiz.

Para já, e enquanto via o meu filho sentadinho com a Melissa que ele tinha acabado de conhecer sozinho, pensei para mim "aí está. a primeira paixão dele. o que uma mulher é capaz de fazer. olha pra ele ali sossegado. nada o faz sentar assim sossegadito. só a Melissa. e o Toy Story 3."

Filho, só espero que sejas tão feliz como eu no amor. Porque o primeiro amor é giro. Dá para escrever histórias em blogs e tal. Mas o maior amor ainda está para vir. Vai te fazer sorrir sem parar e vai te fazer doer como tudo. Mas vai valer a pena. E quem sabe. Até pode vir a ser a Melissa. Porque esta vida dá voltas do caraças.

04/11/2013

AH BIGODES


Sim isso é um bigode aí a exibir-se no meu beiço. "Um bigode?" perguntam várias pessoas. Sim um bigode. Então e o que é que leva um rapaz de 30 e picos anos a deixar crescer um vintage moustache que normalmente todas as mulheres tão apaixonadamente odeiam? É tudo por uma causa. Sim senhor. Este mês é o Movember. Movember é um movimento mundial que consiste em todos os homens (e mulheres para as que tiverem coragem) deixarem crescer um bigode durante o mês de Novembro, para alertar para o cancro da próstata e cancro testicular. É uma campanha grassroots como deve ser. As pessoas perguntam "o que é isso?! então mas 'tás de bigode?". E aí a pessoa explica que sim e porquê, criando "awareness" para a causa. Simples e eficaz. Para além da minha mulher gostar e dizer que fico com ar de galã de hollywood dos anos 50. Eu cá queria mais um bigode tipo o do Josh Brolin do filme "Este País não é para Velhos" ou o do Christian Bale no "Out of the Furnace". Mas pronto, é o que se pode arranjar. E o que interessa é a causa. Grow your mo.

BLOGS I F#*KING LOVE: O TERROR ABSOLUTO


Vou começar uma rubrica neste blog chamado "blogs I f#*king love". E começo com este. Passo a explicar.
blogs por aí muita bons mesmo. De tudo. E sobre tudo. Gosto de ver gente e coisas interessantes. Inspira-me. Gosto de ver que há gente por este mundo fora que fazem dele (o mundo) um sítio interessante e giro pra caraças. Gosto de ver o talento das pessoas em acção. Seja o talento para a escrita, seja para fotografia, desenho, design, cozinha, video, DIYs, lifestyle ou fazer sofás a partir de palitos e paletes. Gosto também quando me faz rir. Ou pensar. Ou pensar enquanto riu. Ou rir enquanto penso. E há por aí gente com muita jeito pra isso. Uma delas é a Pedagogia do Terror. Ou Pedagogia como eu lhe chamo (é tu cá tu lá) quando falo sobre ela (o Terror está implícito). Nunca perco um post desta menina. Rir e pensar são garantidos. O talento dela não sei exatamente qual é. Diz que é mãe mas não é fofinha. Escreve cartas ao pai natal a pedir coisas que obrigam os duendes a fazerem horas extras. E no treino de futebol do filho tira-lhe uma foto para 45 minutos depois perceber que tirou a foto a outro miúdo. Já depois de cortar e aplicar filtro. Tem vizinhos embalsamados que fazem sexo audível. E sabe como ninguém explicar a um filho porque é que tem o pijama vestido ao contrário. E isso para mim é quanto basta.

É clicar em cima da foto que já vão ver.


31/10/2013

LUHK VAI À ESCOLA


Quando era miúdo, o Hulk era dos meus heróis preferidos. Diz a minha mãe que eu lhe chamava o "bicho da bariga". Pelos vistos o six-pack do gajo impressionava-me. O Hulk era um gajo de poucas palavras. Enquanto Bruce Banner, era um tipo inteligente. Cientista. Um pouco introvertido até. Mas esperto e bom rapaz. Depois quando o enfureciam, ficava verde, rasgava a roupa toda e ficava com uma musculatura do caraças. Transformava-se em Hulk. Passava a ser um gajo impulsivo e incapaz de proferir uma palavra quanto mais construir uma frase. Só grunhia. O meu filho também o admira. Mas chama-lhe Luhk em vez de Hulk. Devo dizer que têm muito em comum. Já vi o meu filho passar de Bruce Banner a Hulk várias vezes. Ainda este fim-de-semana passado no CascaisShopping ele entrou em acção. Quando lhe disse que tínhamos de ir embora em plena loja da Disney. O moço inteligente e dócil enfureceu-se. Transformou-se em Hulk, perante os olhares incrédulos das pessoas que passavam. (sim sim, aquele miúdo que vocês viram no CacaisShopping no domingo de manhã era o meu filho). Eu acho que ele até começou a ficar com uma espécie de tonalidade verde. Tive de agarrar no Luhk à força e levá-lo em braços dali enquanto ele esperneava e grunhia por aquele Shopping fora. Depois quando se acalma volta ao estado de rapaz dócil e inteligente. Tal como o Bruce Banner.

Hoje como é Halloween, foi como Hulk para a escola. Aliás, Luhk. Desculpem. E o que o rapaz gosta de encarnar a personagem. Pelo sim pelo não, já está informado que o Hulk nunca se zanga com os amigos nem com os bons. Só com os maus. Mas ter uma conversa séria no passeio com alguém vestido assim... Não sei até que ponto vai resultar. Até estou com medo de o ir buscar mais logo. Cheira-me que vou encontrar a escola em escombros. Boa sorte professoras.

30/10/2013

MILF


Esta foto tem aparecido por aí em vários sítios da internet. Traz uma mensagem para as mães desse mundo fora. A mensagem é "Qual é a vossa desculpa?". Que é como quem diz "estão a ver como é possível?". Ou ainda "tenho 3 filhos todos acabadinhos de nascer e tou aqui boa comó milho... já vocês...". A foto-mensagem pode ser lida ou interpretada de várias maneiras. Dependendo da pessoa que a vê. E de quanto pesa. Eu cá enquanto homem tenho a minha opinião sobre esta coisa da mulher depois do parto e do que é ser uma MILF. Mas o que eu quero mesmo é deixar uma mensagem a esta mãe que se apresenta com este físico com 3 fedelhos à volta dela e pouco tempo depois de ter parido o seu último. O que eu lhe quero dizer é basicamente isto:

"Are you fucking crazy?! Que raio de m*#da é essa pores uma foto assim com 3 putos dessa idade?! Queres o quê? Arranjar maneira de eu ter que fazer tudo sozinho em casa para a minha mulher passar o dia no health club? E ainda ter de ouvir que não quer mais espelhos em casa? E depois como é que eu faço para me ver ao espelho antes de saír de casa? E sabes o que é ter de comer saladas todos os dias? Hum, sabes? Em pratos daqueles pequenos? Sabes? Sabes o que é estar numa loja à porta do provador à espera que ela tente se enfiar dentro de 7 pares de calças que nem à Victoria Beckham serviam? Tens ideia quanto tempo isso pode demorar? E depois o silêncio no carro até casa depois de sair da loja? Sabes o que é isso? Para eu depois lhe tentar explicar durante 5 horas que o peso dela está corretíssimo, que a balança não tem de ir para o lixo, que as skinny jeans da Roxy que eu tanto adoro não lhe fazem parecer a Popota nem a Fanny. Sujeito a um gajo perder uma tarde de surf clássico. Por tua causa. Uma m*#da dessa não se faz."

Mulher, se estiveres a ler isto, tu és uma MILF. Agora vou descongelar a picanha para o jantar.

YOU ARE HIS HERO



Ele sabe dizer melhor que eu o que ele pensa de ti. Mas sei que ele te adora. Que te chama "madresita". Que acha que "a mãe é muito linda" e que diz que a "mãe é uma princesa". Que gosta de brincar contigo. Que se preocupa se estás contente ou triste. Que gosta da "t-shirt da mãe que é dos Guns", como ele diz. Que gosta "muito muito de ti, mãe". Ele sabe dizer melhor que eu. É só ouvires. E sentires no abraço que ele te dá. E nas festas que te faz na cara.

Acho que és uma super mulher. Acho que o teu kryptonite é a pressão que pões em ti para seres uma boa mãe. Mas o engraçado é que não precisavas de pôr pressão nenhuma em ti. Porque tu já és a melhor mãe do mundo. E nem precisas de tentar. "You are his hero".

Obrigado Mia pela partilha do video.

23/10/2013

OF MONSTERS AND MEN


A abelha Maia é uma cabra. Quero dizer, uma abelha. Mas uma cabra. Hoje de manhã estava o meu filho a ver a Abelha Maia enquanto eu me despachava, quando ouço a gaja dizer que "monstros não existem". Parei e fui à sala tentar perceber que raio ela queria dizer com isso. Então parece que andava alguma coisa viscosa a passar lá pelo sítio onde aquela malta vive a causar destruição. E deixava um rasto de nhanha pelo caminho. Um dos insectos amigos da Maia estremecia de medo. Dizia ele "e se fôr um monstro?". Ao que a Maia responde com aquela vozinha de totó sonsa "que disparate! monstros não existem". Não existem Maia? Ai não?

Esta abelha de um raio, com uma frase deixou o meu filho confuso e quase destruiu o imaginário fantástico dele. Pior ainda, quase destruiu a dicotomia fundamental da vida. Eu não quero que o meu filho ache que os monstros não existam. O que eu quero é que ele não tenha medo de monstros. Que tenha a coragem para os enfrentar. Que os olhe de frente. Que ele saiba que tem a força necessária para os vencer. E que os vença. Porque monstros ele vai encontrar sempre pela vida fora.

E já agora abelha Maia, dizes que os monstros não existem, mas queres que acredite numa abelha que fala e com permanente ou afro ou lá o que é isso que usas na cabeça. Então tá bem. Olha, e à tua conta já estou atrasado para o trabalho.

22/10/2013

A PRIMEIRA CARTA QUE TE ESCREVI


Hoje revisitei o meu antigo Blog que tinha antes do meu filho nascer. Encontrei este texto, uma "carta" escrita para o meu filho no dia 8 de outubro de 2010. 19 dias antes de ele nascer de urgência e prematuro às 32 semanas. Não mudo uma única vírgula.

"Sabes... Na vida imaginamos momentos. Esperamos coisas. Queremos coisas. Sonhos. Há pessoas que correm atrás mas nunca chegam. Há outras que desistem a meio. E outras que sonham sempre mais. Nunca fui das que desistem a meio. Era das primeiras. Das que correm atrás mas nunca chegam. O que é que eu posso dizer. Quando sonho, sonho em grande. Mas nunca deixei de correr atrás. Podia parar para descansar. Mas não deixava de correr atrás. E momentos que imaginei, aconteceram. Coisas que esperava realizaram-se. Coisas que quis, tive. E passei a ser dos que sonham sempre mais. Vais ver que sonhar é bom. E que correr atrás vale sempre a pena. Mesmo quando parece que nunca lá chegamos. Vão haver dias bons. Outros maus. Também os tive. E ainda os tenho. Vão haver caminhos difíceis e caminhos fáceis. Às vezes vais ter de voltar atrás e começar tudo de novo. Outras vezes vai ser uma estrada aberta. Sempre em frente, sempre a andar. O mundo vai te parecer bonito e grande. Feio e pequenino. Às vezes vai te cair em cima. Mas nunca pares de sonhar. E de correr atrás. Vais cair algumas vezes. Mas vais sempre te levantar. E vais perceber que aquilo que não nos mata, faz-nos mais fortes. Vais te rir de coisas que te fizeram chorar. E vais chorar coisas que te fizeram rir. A vida é assim mesmo. Mas vais ver que vale sempre a pena vivê-la. E vais vivê-la bem. isso eu sei. Porque ainda não nasceste mas já tens a fibra da tua mãe e a perseverança do teu pai. És um pequeno lutador. Com um grande coração. Eu sei. Ouço-o todos os dias. Ainda não nasceste. Mas já és o orgulho do teu pai e da tua mãe. Filho."

18/10/2013

OPERAÇÃO "ORGULHO"


Ainda ontem escrevi sobre como gostaria que o meu filho aprendesse definitavamente a ir ao WC para cocó e xixi. Não é que ele não soubesse já. Às vezes pedia. Outras vezes fedia. Mas pronto. Também já me tinham dito que os rapazes são mais demorados do que as raparigas neste processo de "potty training". Até em adultos temos essa reputação. Diz-se que "só fazemos m*#da", que "cagamos tudo" e que "mijamos fora do penico" mais que as mulheres. Mas ok. E para tentar contrariar essa tendência, tenho tentado que o meu filho aprenda a fazer o que tem a fazer no sítio certo para o fazer. Tem sido uma missão do caraças. O cocó foi mais rápido. Aprendeu a pedir para ir com 2 anos e meio (portanto há cerca de 6 meses). Apenas um pequeno retrocesso quando adoptámos o Charlie the lab (nosso labrador). Aí largou algumas poias no meio do chão. Mas já passou. Ele percebeu que isso era totalmente inaceitável. Mas o xixi tem sido mais difícil. Ele sabe que tem de pedir. Mas às vezes a vontade de continuar a brincar é maior e lá se descuida. Mudava de cuecas e calças umas 3 ou 4 vezes por dia. À noite fralda. Senão iam lençóis e tudo.

Tentámos de tudo. Tentei as estratégias pedagógicas. Operação Dr. Phil. Conversa, compreensão, tolerância, paciência. Nada. A seguir tentei as estratégias do Cesar Millan dos cães. Operação Calm Assertiveness. Calma, assertividade e reforço positivo. Nada. Mandei a psicologia e o Cesar Millan à fava e tentei a estratégia da CIA. Operação Potty Storm. Ameaça, pressão psicológica e chantagem. Nada. E aí tive um break-through. A ver as notícias surgiu-me a ideia da estratégia "dirigente de futebol corrupto". Operação Sanita Dourada. Segredo e suborno. Quando o deixava na escola, chamava-o e dizia-lhe que tinha um segredo para lhe dizer. E dizia-lhe ao ouvido bem baixinho "se não fizeres xixi hoje nas cuecas, o pai compra-te uma surpresa. se precisares de ajuda, fala com a Joana ou a Carina (educadoras dele). Não te esqueças, cuecas limpas e levas uma surpresa", seguido de piscadela de olho.

No 1º dia que o subornei, sucesso. Lá fui eu comprar uma surpresa. Neste caso um Chupa-Chups. No 2º dia que o subornei, cuecas molhadas. Pensei "já percebi. o gajo é esperto. tenho que subir a parada. ele já não vai fazer isto apenas por um chupa". E então subornei-o com uma Tartaruga Ninja. Sucesso. Lá fui eu ao Toys 'R' Us comprar o Donatello. No dia seguinte, sucesso novamente. Lá fui eu comprar o Raphael. Entretanto comecei a fazer contas. Só faltava comprar o Leonardo e o Michelangelo. Mas entretanto, ele começou subtilmente a sugerir que queria o Iron Man, o Hulk, o Mau (seja lá quem esse for), o Capitão America, o Pai das Tartarugas Ninja, o Thor e por aí fora. Isto ia sair mais caro do que a conta da água. E eu sem dar por isso estava já metido numa teia de corrupção difícil de saír. Refém das exigências dele alimentadas pelo meu suborno. Tive que pôr um fim a isto antes que fôssemos apanhados. E assim acabou. E os xixis nas cuecas voltaram. Frustrado, pensei que nunca ia ter fim. Sinceramente cheguei a visualizá-lo no futuro com 30 anos ainda a dormir de fralda.

Até que de repente, sem estratégia nenhuma, vou buscá-lo um dia à escola e ele vem a correr para os meus braços e diz-me "pai pai! não fiz xixi". Dei-lhe um abraço daqueles e congratulei-o efusivamente pelo feito. Mas pensei pra mim "olha-me este... este deve pensar que lhe vai calhar mais alguma tartaruga ninja". No dia seguinte, vou buscá-lo à escola e "pai pai! não fiz xixi". Mais um abraço apertado e mais congrats. Pensei pra mim "hmm. deve ser sol de pouca dura". No dia depois, outra vez "pai pai! não fiz xixi". Mais abraços e congrats. 3 dias seguidos sem xixi nas cuecas. Disse-lhe que tinha muito muito orgulho nele.

Esta noite passada, acordo às 3 da manhã com um sussurrar "pai pai. tenho que ir fazer xixi." Levanto-me e vou com ele à casa-de-banho. Ele de olhos fechados faz o que tem a fazer. Sacode. Lavamos as mãos. E aí vai ele. Olhos fechados tipo zombie direito para a cama. Deita-se sozinho e pede-me baixinho "Tapa-me pai. Tapa-me." Eu tapo-o com o edredon, dou-lhe um beijinho e volto para a cama. E penso "tudo o que ele precisava era saber que eu tenho orgulho nele"... E penso "será que isto resulta também com o meu cão? Se eu lhe disser que tenho orgulho nele, será que ele deixa de me comer a casa"?

17/10/2013

É A MASSA OU O MOLHO?



Diz que o Marco Bellini é que sabe. BullocksPizza é com o meu filho. Depois de o ver com a mão na massa, não tenho dúvidas que ele é que sabe. As pinceladas de molho que dava sobre a massa mais parecia Monet a pintar um fresco. E a forma como agarrava nos ingredientes e os encostava bem ao nariz para cheirar a qualidade e frescura é de mestre mesmo. Aliás, é de Chef. Só depois de uma grande fungadela de aprovação é que ele espalhava os ingredientes por cima do molho e da base. Qualidade não se avalia através de marcas ou relatórios da ASAE. É agarrar à macheia e dar-lhe uma grande fungadela. Assim é que é. E depois a forma sublime como largava os ingredientes sobre a pizza. Deixando a mão aberta a pairar uns segundos sobre a mesma depois de os largar, num verdadeiro toque de arte.
Agora se ele aprendesse a ir fazer xixi e cocó na sanita sempre, isso é que era mesmo bom. Massa ou molho, o que eu gostava mesmo eram cuecas sequinhas sem nenhum deles. Sem massa nem molho. Mas enfim. Pelo menos tem talento de chef e o temperamento do Gordon Ramsay. 'Tá no bom caminho.

16/10/2013

QUEM ME DÁ CRÉDITO


O meu filho tem um dom. Capaz de me pôr um sorriso na cara com uma simples palavra e apaziguar a alma com um simples gesto.

O outro dia, no carro a caminho de casa, em conversa com a minha mulher sai-me a frase "não me dás crédito nenhum".
De repente, do banco de trás ouço "toma pai". Vejo a mão do meu filho estendida na minha direção a entregar-me alguma coisa.

"O que é filho?" pergunto eu, de mão aberta para receber o que ele tem para me dar. Ele, largando algo invisível na palma da minha mão diz "é crédito pai. eu dou. toma crédito." Sorriso e alma apaziguada. Só assim.

Depois, foi o resto do caminho até casa a dizer "toma pai, mais crédito" e a estender-me a mão para me dar crédito. De modos que nesta altura, tenho crédito para dar e vender. Se alguém precisar, é só contactar-me.

15/10/2013

UM MODELO DE IRMÃO


Olá. Eu de novo. Pensavam que isto tinha acabado, não? Pois não. Não acabou não. O problema é que este pai nem tem tido tempo para pôr os pés no sofá. Porque entretanto a nossa família aumentou. Pois é, o Santiago agora tem um "mano" como ele disse na escola. Na reunião de pais tive que explicar que o "mano Charlie" que o meu filho falava era um cão. E depois, ainda me quis armar em engraçado e fiz o favor de rematar com um "mas eu não sou o pai". Ouviram-se grilos.
Mas adiante. Sim, agora temos um cão. Já não bastava a sarna que tenho para me coçar, achámos que se tivéssemos mais um elemento na família que pudesse ter sarna, seria giro.
E a decisão foi tomada assim:

Eu: - Se calhar era giro arranjar um cão para o Santiago.

A mãe: - Opááá... Era tão giro. Acho que lhe ia fazer bem.

Eu: - Pois. Também acho. Sentido de responsabilidade e tal. Se calhar até melhorava as birras.

A mãe: - Vou começar a ver isso.

Eu: - Boa. Mas tem de ser uma raça instintivamente dócil com crianças, inteligente e que goste de água para a gente o levar para a praia. Tipo um labrador. Os castanhos-chocolate são muita giros.

A mãe: - Vamos a isso.


1 mês depois. 06h00 da manhã. Terraço da casa.

A mãe: - 'Tou farta de limpar m*#da!

Eu: - O cão arrancou os 3 respiradores da parede?! Os 3?!! E o que é aquilo ali no chão? Aquilo é a capa do grelhador?! Vou dar o cão porra!


1 mês e 1 semana depois. 19h00. Terraço da casa.

A mãe: - A sério... 'Tou farta de limpar m*#da!

Eu: - E eu farto de apanhar os restos da casa que este gajo destrói.


1 mês e 2 semanas depois. 20h00. Sala de estar. [O meu filho aparece-me à frente de t-shirt e nu da cintura para baixo]

O meu filho: - Pai. Fiz cocó.

Eu: - O quê?

O meu filho: - Fiz cocó.

Eu: - Como assim fizeste cocó?

O meu filho: - Fiz cocó. Ali.

Eu: - Não percebo filho. O que queres dizer?

O meu filho agarra-me na mão e leva-me até ao quarto dele. Aponta para o chão. No meio do chão, uma poiazita perfeitamente largada no meio do soalho flutuante.

Eu: - Oh Irinaaaa! Ainda 'tás farta de limpar m*#da?

26/07/2013

SELVA SOBRE RODAS E UM PIRETE PEDESTRE



Nota: Não gosto de escrever sobre coisas negativas neste blog. Mas tenho o dever enquanto cidadão e pessoa preocupada em alertar para situações que podem ser perigosas. Por isso aqui vai.

Muitas vezes ouço dizer que temos o país que merecemos. Porque enquanto portugueses somos isto e aquilo. Às vezes concordo, outras vezes nem por isso. Ontem foi dia de pensar nisso. No espaço de 15 minutos tive 2 exemplos que me fazem considerar se quero o meu filho a crescer numa "civilização" tão pouco cívica. Então foi assim:

Exemplo 1: Saí do trabalho, fui buscar a minha mulher ao trabalho dela e sigo pela A5 a caminho de Cascais para ir buscar o meu filho à escolinha. Já na A5 meto-me na faixa da esquerda para ultrapassar. Vou a cerca de 130 km/h. Está um carro a cerca de 100 km/h na faixa da esquerda sem estar a ultrapassar e com as faixas da direita vazias. Aqui tenho 2 hipóteses. Ou meto-me eu para a faixa da direita e ultrapasso-o pela direita porque o idiota decidiu estar a passear na esquerda. Ou faço-lhe um simples sinal de luzes para o relembrar que não está ninguém do seu lado direito, que ele deve circular pela direita e que não está no Reino Unido onde se circula pela esquerda. Optei por esta segunda hipótese. Quando lhe faço um único sinal de luzes, ele devagarinho, com calma passa para a faixa da direita. Quando eu vou a ultrapassar, este idiota, mentecapto e potencial assassino volta a enfiar-se para a faixa da esquerda propositadamente com o propósito de me apertar contra o separador central e fazer-me despistar. Este potencial assassino, poderia ter causado um acidente grave numa auto-estrada, pondo em risco a vida de pelo menos 2 pessoas (eu e a minha mulher) e pondo em risco o meu filho ficar sem pais. E porquê? Por razão nenhuma. Sei lá eu. Porque é idiota e mentecapto. Não sei sinceramente. Tento reflectir na razão pela qual as pessoas têm atitudes destas e não consigo perceber. Resta dizer que o idiota mentecapto é tão mas tão estúpido que ainda por cima fez isto a conduzir o carro da empresa, claramente identificado com o logotipo estampado na porta. A empresa Novo Interior. O carro, um Citröen C2 preto. O condutor, um potencial assassino, idiota e mentecapto convicto. O local, a A5. A hora, cerca das 18h20. Se este é o comportamento típico deste idiota mentecapto, então é uma questão de tempo enquanto não mata alguém na estrada.

Exemplo 2: Já na rua da escolinha do meu filho, vou a passar de carro e eis que vem uma senhora com uma menina no meio da estrada em vez de no passeio. O passeio na rua da escolinha do meu filho é felizmente bastante largo e bom, ao contrário de outros no nosso país. E existe dos dois lados da rua. Sem qualquer necessidade portanto de se andar pela estrada onde passam os carros. Ao passar por elas abrandei cuidadosamente para que o meu espelho não batesse nelas, abri a janela do carro e educadamente disse-lhe: "desculpe, mas tem um passeio ali, já viu o perigo que é para a menina andarem na estrada?". Resposta da senhora: um pirete. Yep, um dedo do meio levantado na minha direcção. Só assim.

Temos o país que merecemos? Gente como esta tem sem dúvida. Mas o meu filho não merece. Porque quero o melhor para ele. E se isto é o melhor que este país tem para lhe dar, vou ali e já venho. Aliás, vou ali e não venho mais.

18/07/2013

PRIORIDADES



Epá finalmente. Já não escrevia alguma coisa faz algum tempo. Não é falta de vontade. Tem sido mais por falta de tempo. Uma pessoa tem que organizar as prioridades. Desde a última vez que escrevi meteram-se pelo meio uma viagem à California, aniversários, varicela, jantaradas, DIY's* na casa, Optimus Alive, Sumol Summer Fest, esplanadas na Boardriders Quiksilver, e "surfadas" com o meu filho de 2 anos. Prioridades portanto. E depois há o trabalho. Esse também me tira algum tempo.

Mas voltando às prioridades, das que mais gosto são mesmo as "surfadas" com o meu filho. O meu filho adora o mar. Ver o entusiasmo dele quando caminhamos juntos em direcção ao mar com a prancha é algo de que nunca me canso e que nunca vou esquecer. A determinação e coragem dele são admiráveis. Os olhos dele ficam do tamanho de bolas de ténis. A boca não se fecha de tanto entusiasmo. E nem a pança descomunal com que ele fica de tanta água que engole o pára. Já demonstra um orgulho enorme na prancha e no fato de surf dele. De tal forma que quer levar a prancha sozinho, apesar de ser o equivalente a um hamster carregar um skate. Mas o puto apesar de pequeno é grande. Aquele meio-metro de gente enfrenta aquelas espumas do mar da Ericeira com a coragem de um gigante. E com tanta vontade de aprender e fazer, já se mete em pé na prancha. Já deu uns wipe outs** também. E vê-lo caír da prancha, rebolar debaixo de água e levantar-se sozinho com o cabelo nos olhos e um sorriso salgado de orelha a orelha é... bom, é difícil de pôr em palavras. Foi um sonho que tive durante muitos anos, entrar no mar com um filho. Partilhar as ondas, partilhar o stoke***, partilhar o sonho. Hoje é uma realidade. E espero que a vida nos proporcione sempre este stoke. E que um dia ele vá de mão dada com o filho em direcção ao mar com uma prancha debaixo do braço. Que ele chegue a casa com o filho, salgados e de cabelos desgrenhados, alaparem-se no sofá, pés cheios de areia em cima, ligar a tv, e adormecerem a ver as ondas a rolarem no ecrã. Ainda com o som do mar nos ouvidos e a água salgada a escorrer devagarinho do nariz. Prioridades.

*DIY: Do It Yourself. A arte de tentar fazer as coisas nós próprios em vez de comprar no ikea.
**Wipe Out: Quando um gajo vai todo lampeiro numa onda em pé e balda e cai na água.
***Stoke: Um entusiasmo desmesurado, a roçar o irracional, de tanta pica em fazer alguma coisa.

20/05/2013

"VOU ÀS COMPRAS, JÁ VOLTO"


Conheço muito pouca gente que goste de ir às compras. Eu cá até gosto. Tenho um estilo muito próprio de ir às compras. Não levo lista. Não preciso. Gosto de improvisar. Chego lá, e logo se vê. Gosto de escolher o que vou comprar com calma. Ainda esta última vez, estive uns 15 minutos a escolher uma escova de dentes. Afinal durante os próximos meses vamos ter uma relação de intimidade e gosto de ter a certeza do que levo. Gosto de comparar produtos. Por exemplo, comparar valores nutricionais dos cereais. E de perceber que o Rice Crispies para os putos é melhor que o Fitness. Gosto de apreciar os layouts dos rótulos das garrafas de vinho e refletir sobre os nomes deles. Cabeça de Burro, Periquita, Post Scriptum, Defesa. Entretenho-me também com os nomes dos produtos de cosmética. Baba de caracol, veneno de serpente, cáca de escorpião. Tudo coisas que pelo nome vê-se logo que só podem rejuvenescer. Gosto de ver a originalidade nas campanhas de promoção. Como um tampão-tester da OB na secção de higiene feminina. Pelo caminho, por entre corredores, vou tirando fotos. Das coisas, dos outros e de mim próprio.

Faço das compras um momento de diversão. Como uma ida a um parque temático. Há pessoas que me vêem e que ficam intrigados com o meu estilo de fazer compras. Retribuo com um sorriso enquanto seguro uma faca com lâmina de titânio numa mão e uma de cerâmica na outra. (nota: optei pela de titânio, depois de fazer uma pesquisa no google no smartphone ali mesmo). Gosto de ir àquelas secções que ninguém vai. Tipo a das colheres de pau. Tem lá as coisas mais intrigantes. Instrumentos de cozinha que não faço a mínima ideia para que servem ou como se utilizam. E tem lá coisas que eu nem sabia que precisava. Tipo, o outro dia encontrei lá um almofariz e um pistilo. Trouxe.

O hipermercado é um mundo a convidar à descoberta. Sinto-me um explorador quando vou às compras. Por exemplo, adoro descobrir roupa cool na secção de têxteis do Continente. É como descobrir uma esmeralda no meio da selva amazónica. Ou aquela espécie rara que se pensava extinta. Adoro a cara das pessoas quando me perguntam que marca é que é a t-shirt ou camisa que estou a usar e eu digo que é Continente. É notória a confusão que fica na cabeça das pessoas. "Ele está a brincar ou a falar a sério?" ou "Como é que eu nunca encontro estas coisas quando lá vou?". Gosto de tentar descobrir os produtos com o prazo de validade mais longo. Saco todos os que estão mesmo à mão de semear na prateleira e tento enfiar o braço até ao fundo para ir buscar os que estão mais lá para trás. Dá gozo criar desafios quando se vai às compras. Tipo jogos sem fronteiras. Gosto de tentar ver qual a fila para pagar que vai demorar menos. Olho para os carrinhos de compras das pessoas e vejo o tipo de produtos que lá estão dentro e as quantidades. (Dica: produtos eletrónicos dão sempre lugar a uma chamada telefónica por parte do funcionário da caixa, portanto a evitar estas filas). Gosto de tentar adivinhar o valor final das compras enquanto o senhor ou senhora vai registando. Quando chego a casa, gosto de tentar ver quantos sacos consigo pôr em cada braço e carregar da garagem para a porta de casa.

Gosto de chegar a casa com sentido de dever cumprido depois de 2 horas. Sentir satisfação de ter comprado aqueles mimos para a minha mulher e para o meu filho. Aquele queijinho que ela adora, um bom merlot para bebermos ao jantar. As bolachas dos dinossauros para o meu filho e o livro do Sid Ciência para colorir. Ahhhh, o prazer de ir às compras. A minha mulher: "trouxeste as fraldas?"............................ F#$@-se... Já volto.

15/05/2013

F#$@-SE


Estou aqui com um problema em mãos. Aqui há uns tempos atrás, regressava a casa depois de ir buscar o puto à escolinha, e apanho um gajo a vir de frente em fora de mão. Mando uma buzinadela e ouço do banco de trás "F#$@-SE". Isso mesmo. E dito com uma fonética irrepreensível. Pronúncia perfeita. Todas as consoantes e vogais bem colocadas. Acento tónico como deve ser. Espreito pelo espelho e confirmo que até a expressão facial se encontrava de acordo com o proferido. Pensei "tá boa esta. e agora?". Uns km mais à frente, sem que viesse nenhum carro, buzino novamente só para ver o que é que acontecia. Do banco de trás: "F#$@-SE" outra vez. E só pelo sim pelo não, volto a buzinar uma terceira vez. E uma vez mais "F#$@-SE". Ora estamos aqui perante um exemplo típico de condicionamento clássico de Pavlov.

Sinceramente nunca me apercebi que alguma vez tivesse dito alto e em bom som essa palavra com o meu filho no carro. Até porque desde que o meu filho nasceu, que passei de um condutor tipo Michael Douglas no filme "Um Dia De Raiva" a um condutor tipo Morgan Freeman no filme "Driving Miss Daisy". Mais ou menos. Mas pelos vistos já é um reflexo meu inconsciente que está intrinsecamente associado à buzina. F#$@-se. Mania dos miúdos nos imitarem em tudo.

Bom, agora que o mal está feito, é pensar uma maneira de o desfazer. Conhecendo o meu filho como conheço, repreendê-lo ou censurá-lo só iria reforçar o uso da palavra. Rapaz perseverante este. Portanto naquelas primeiras vezes não lhe disse nada. Fingi que não estava nem aí. Então no dia seguinte, quando o levava à escola, buzinei de propósito para induzir a palavra. E tal como esperava, aí veio ela. Fiz-me de parvo e perguntei "o quê filho?". E ele: "F#$@-SE". Eu corrigi "não filho, é pôssaras". Genial né? Tentei fazer com que ele achasse que estava a pronunciar mal a palavra, arranjando uma palavra foneticamente parecida. E de seguida disse-lhe: "queres ver? é assim... buzino... pôssaras!". "Percebeste, agora tu"...buzino... E ele: "PÔSSARAS". Ah! Consegui. Sou mesmo genial pensei eu. Repeti umas quantas vezes mais. Just to make sure. E voilá. Confundi-o e consegui que ele transformasse um "F#$@-SE" num "PÔSSARAS". Missão cumprida.

Passaram-se uns dias, e eu já me tinha esquecido do assunto, até porque o "pôssaras" tinha pegado. Entretanto estava eu acompanhado do meu filho a ver uma casa para alugarmos com um agente imobiliário. O senhor simpático a fazer uma tour da casa e de repente ouve-se uma buzina vindo da rua. E sem que eu esperasse, diz o meu filho "F#$@-SE"! Com uma fonética irrepreensível. Pronúncia perfeita. Todas as consoantes e vogais bem colocadas. Acento tónico como deve ser. Só por curiosidade, sabem o eco que faz uma casa nova vazia?
Merda para o Pavlov.

FILHO DA MÃE



Domingo passado foi dia da mãe cá em casa. Celebramos o dia da mãe no 2º domingo de maio e não no 1º, de resto como na maior parte dos países do mundo. E ainda bem, porque no 1º domingo de maio, aqui o pai estava fora em trabalho. O dia já todos sabemos é simbólico. Porque para não fugir ao cliché habitual, dia da mãe é todos os dias. Não fazemos nada neste dia que não façamos nos outros dias. Exceto uma lembrancinha do filho da mãe.

O filho da mãe este ano ofereceu à mãe uma medalha de bom comportamento, que apesar de ser um conceito relativo, não deixo de concordar. Pondo as coisas em perspectiva, acho que o comportamento da mãe vai muito além do bom. Eu diria que é uma mãe do caraças. Gira todos os dias, estilo único, raça lutadora, garra vencedora, mulher cheia de carisma e carácter. Como eu disse, uma mãe do caraças. Esta mãe aguentou uma porrada de dias seguidos acamada num hospital a fazer nº1 e nº2 para um penico sem nunca se queixar. Aguentou comida de hospital durante mais de um mês. Segura as pontas sempre que o pai do filho as enrola ou as desata. Nunca entra em pâncio em situações de crise e nunca entra em crise quando o pai do filho entra em situações de pânico. Tem sempre um sorriso para dar, seja ele de amor ou ironia. É bem evidente o quanto o filho da mãe gosta dela. E não é pra menos. O filho da mãe tem uma sorte do caraças em ter uma mãe assim.

E agora que já ganhei o direito a não fazer nada em casa durante a próxima semana, fica a fotografia do filho da mãe com a mãe a fazerem o que melhor fazem. A brincarem juntos. Tipo furacão. Aliás, tipo tempestade perfeita.

Nota de última hora: Aparentemente hoje é o dia internacional da família (obrigado Joana pela lembrança). Portanto, feliz dia da família para nós.

10/04/2013

"VOU ATIRAR UM PAU"




Esta foi a frase lançada pelo meu filho hoje a caminho da escola. Ia a conduzir quando do banco de trás voa esta frase. "Vou atirar um pau". Olhei pelo espelho para ele e perguntei "hã?" Ao que ele responde enquanto olhava contemplativo pela janela do carro "vou atirar um pau". Intrigado e sem saber de onde vinha esta ideia, perguntei "Vais atirar um pau? Porquê?". Responde o pequeno: "Vou atirar um pau à cabeça do gato". Aí percebi tudo. Aquela clássica música infantil começava a dar frutos. Eu respondi "Não filho, não se atiram paus. Nem às pessoas, nem aos animais e nem mesmo aos gatos". Ele ainda reiterou "Sim, sim". Mau maria, pensei eu para mim. Tenho aqui trabalho pela frente.

Depois de algum trabalho psicológico digno dos melhores negociadores da CIA (tipo o gajo do filme Zero Dark Thirty), consegui instalar alguma dúvida na cabeça do meu filho sobre a necessidade e propósito de espancar um gato na cabeça com um pau. Mas deixem-me dizer que não foi fácil. O rapaz é determinado. E depois de ouvir tantas vezes a música "Atirei o pau ao gato" e de inclusive ver os desenhos num livro sobre a mesma história, julgo que o plano dele estava bem definido. Vou ter de dar algum tempo para o miúdo esquecer a história antes de o levar a casa de amigos com gatos.

Entretanto isto fez-me pensar nesta história do que é melhor para os nossos filhos. Reclama-se que a televisão é muito violenta e os desenhos animados de hoje são isto e aquilo. E que antes não era assim. Permitam-me que discorde. Eu vi muita porcaria na TV quando era puto. Cresci a ver o Tom & Jerry e o Coyote & Roadrunner mas nunca tentei meter dinamite na comida de ninguém. Vi os filmes Shining e Sexta-Feira 13 com 7 anos mas nunca desatei à machadada a ninguém. Tudo vai da forma como nós adultos filtramos a informação que os miúdos recebem. Eles vão sempre ser expostos a coisas boas e más, a mensagens positivas e negativas. Foi sempre assim. E será sempre assim. E sei que pode ser cliché e que todos sabemos isto, mas somos nós a filtrar essa informação e dar-lhes as ferramentas para que eles tomem as decisões mais certas possíveis, ou pelo menos, as menos erradas possíveis. Desde que essa ferramenta não seja um pau para atirar à cabeça de um gato.

19/03/2013

O DIA


Ao acordar hoje de manhã fui recebido pelo meu filho de 2 anos com um "feliz natal pai". Nada poderia ter iluminado mais o meu dia. Obrigado filho. E feliz dia do filho para ti. Porque sem ti, não haveria o meu dia do pai. O dia é nosso. És o meu pequeno herói.

18/03/2013

WHERE IS HOME? 4 HISTÓRIAS E 1 RESPOSTA


HiSTÓRiA 1

Há uns anos recebi uma proposta de trabalho para Paris. Uma boa proposta. Oportunidade de carreira internacional e boas condições. Estava a minha mulher grávida na altura. Após muita reflexão e conversa, aceitei. Terminada uma reunião em Inglaterra, estava eu no aeroporto em Londres, pronto para regressar a Lisboa já com pormenores ultimados, quando recebo uma chamada da minha mulher. "Olha, não fiques preocupado, mas tive uma hemorragia e estou internada no hospital. Está tudo bem com o bebé. Vou ser transferida para a MAC". O mundo e a azáfama do aeroporto de Heathrow parou. Já sabíamos que ela tinha uma placenta prévia total e que isso representava um risco para mãe e filho em caso de hemorragia. Especialmente para o filho. O meu vôo para Lisboa foi a viagem mais demorada que alguma vez fiz. Quando cheguei, fui direto para o hospital e felizmente a situação estava estabilizada. Mas a novidade era que a minha mulher e o meu filho teriam de estar internados até ele nascer. Ela teria de estar deitada, sem se mexer, o máximo tempo possível. E as contrações teriam de ser vigiadas a toda a hora, porque em caso de nova hemorragia, teria de ir de urgência para o bloco operatório para o meu filho nascer. Então aquilo a que algumas pessoas chamariam um dilema, para mim tornou-se claro como a água. Não iria para Paris. E nunca iria deixar a minha mulher e filho internados para perseguir uma carreira internacional. O meu dia-a-dia a partir daquele momento foi casa-trabalho-hospital-casa. Todos os dias. Passava o serão com ela, ia para casa sozinho, xixi, cama. Os fins-de-semana eram passados com ela  no hospital a ver filmes no laptop, a conversar e a chatear-me com as auxiliares hospitalares. Passadas umas largas semanas de internada, deitada e sem se mexer, a minha mulher teve outra hemorragia. Esta ainda maior que as primeiras. E não parava. Em minutos foi levada para o bloco onde teve uma cesariana de urgência. Estava eu a trabalhar quando por volta das 16h30 recebo A chamada. "Estou a ter uma hemorragia enorme que não pára. Os médicos têm de o tirar agora. Ele vai nascer". Estava ela com 32 semanas de gravidez (mais ou menos 7 meses para quem como eu não faz contas às semanas). Demorei 10 minutos a chegar lá do trabalho. Quando cheguei, o Santiago tinha acabado de nascer. Nunca vou esquecer a imagem da enfermeira com ele nos braços a vir-me apresentar. Mas isso é outra história e fica para uma outra vez. Como nasceu prematuro e de urgência, cuidados intensivos com ele. Ficou internado mais umas quantas semanas a lutar pela vida. E o meu dia-a-dia continuou, casa-hospital-trabalho-hospital-casa. Já me perguntaram se alguma vez me arrependi ou se penso na oportunidade que perdi com a proposta de Paris. A minha resposta foi "NUNCA". Nunca me arrependi. Nunca senti que perdi uma oportunidade. E nunca mais pensei nisso. Sinto que ganhei uma oportunidade. Para estar com a minha família quando eles mais precisavam. Para ver e segurar a mão do meu filho no dia que nasceu. Para beijar a minha mulher e dizer-lhe que é a pessoa mais corajosa que conheci. Para estar cá "em casa".

HiSTÓRiA 2

A casa em que vivíamos era mínima. Para 2 pessoas que gostam de viver a cidade como eu e a Irina, era perfeita. 40m2. Estúdio. Em Alfama. Na baixa lisboeta. Não podia ser melhor. Íamos a todo lado a pé. Fotografia, passeios, window shopping, amigos, jantaradas, saídas, copos, sardinhas e febras, concertos, Santos, brunches junto ao rio, feiras. we did it all. Mas agora com o Santiago, um T0 de 40m2 num beco em Alfama tornava-se tudo menos ideal. Ainda lá vivemos os três durante uns meses. Andávamos os três por Lisboa a pé. O Santiago pendurado na mãe de sling já andava de metro e autocarro com 1 mês de idade. Mas tínhamos que mudar. Se Lisboa estava fora de questão pela logística e pelo preço das casas maiores, então Cascais era a outra opção. Perto de Lisboa e do trabalho. Mar. Surf. Praia. Verde. Bonita. Paredão para jogging e skateboarding. E mudámos. Com coração partido por deixar Lisboa, essa linda menina e moça, que tanto nos deu. Fizemos toda a mudança sozinhos, nós três. Carregámos todos os caixotes, mas também carregámos a certeza que iríamos adorar viver lá. Por ser Cascais, sim. Mas por sermos nós três, de certeza. E adorámos. Cada minuto.

HiSTÓRiA 3

Recentemente surgiu outra oportunidade de ir para fora. Desta vez para São Paulo. Devo dizer que estivemos com um pé lá. Mais uma vez, oportunidade de uma carreira internacional. E uma oportunidade de largar um país desgovernado por idiotas que não merecem a gente que tem e uma Europa caduca a viver um genocídio financeiro levado a cabo sabe-se lá por quem, uma vez que são tantas as hienas à volta dos cadáveres. Depois de muitas reuniões e entrevistas via Skype, de uma entrevista em Paris onde fui e vim no mesmo dia, de muitas contas feitas, muitos emails e Skype com amigos no Brasil (obrigado Meg e Leilane pela vossa preciosa ajuda), depois de tudo isto, decidi declinar. Apesar da muita vontade que eu tinha de ir. Não vou entrar em detalhes do porquê de não ir. Mas já me perguntaram se eu não me iria arrepender de perder esta oportunidade ou se fiquei triste de não ir. A resposta é a mesma de sempre. Nunca. Porque não sinto que perdi uma oportunidade. Sinto que ganhei uma oportunidade. De valorizar o que realmente importa na vida. De estar com a minha família. De sentir que tenho amigos dentro e fora do país. De tomar decisões dificéis quando o mais fácil para mim seria virar as costas a tudo e partir. Mas não o fiz pelo meu país. Vou deixar isso claro. Fi-lo pela minha família. Países há muitos. Família há só uma. E se um dia surgir uma oportunidade de saír do país em que isso seja o melhor para a minha família, vou. Não me sinto preso a lado nenhum. Venho de uma família de viajantes e nómadas que viveram em vários países durante a vida. Já faz parte do meu código genético.

HiSTÓRiA 4

Este país decidiu deixar-se violar por outros. Não vou entrar em conversas políticas, até porque não quero sujar este blog, mas as pessoas que desgovernam este país desde há muito, decidiram que vivemos todos bem demais e que devemos baixar o nosso nível de vida juntamente com o nosso orgulho e dignidade. E eu felizmente nem sou dos que mais me posso queixar, mas tive de fazer alguns ajustes. Porque nesta família de 3 somos todos teimosos como uma porta com mola e rejeitamos que nos baixem o orgulho e dignidade, decidimos manter a qualidade de vida mudando para um sítio mais barato. E assim dizemos adeus a Cascais onde vivíamos à distância de uma caminhada da praia. E vamos para a Ericeira onde vamos viver à distância de uma caminhada da praia. Dizemos adeus a uma cidade que nos últimos 2 anos nos deu muito bons momentos. Ondas, surf, praia, sushi, açorda, Santini, Americas Cup, feiras, patos e gaivotas, km's de jogging diurno e noturno à beira mar, burger king, pizzas do Gordinni, Maria Rita, Cool Jazz Fest, farmácias com drive-in, Starbucks, a escolinha do meu filho, amigos de todo o mundo em nossa casa (Diné e Leila, John e Erica, Nicole, Maria João, Carla e Ritinha, Nuno e Carmen e Constança, Ely, Cláudio, Nicolas, e por aí fora, obrigado por terem ficado connosco e terem dado ainda mais cor aos nossos dias e à nossa casa. São sempre bem-vindos seja onde fôr).

1 RESPOSTA

Depois de tantas hipóteses de sítios para viver, vamos mudar para a Ericeira. Por agora. Amanhã pode ser outro sítio. E pode não haver na Ericeira o que havia em Cascais. Como em Cascais não havia o que havia em Lisboa. E vice-versa. Como São Paulo não tem o que tem Paris. Nem Paris é São Paulo. Depois de já ter vivido em muitos lugares diferentes e até em países diferentes, e depois de já muito ter viajado, umas vezes com a família, outras com amigos e outras sozinho, sei que todos os lugares têm a sua beleza. Mas a maior beleza de todas é estar e sentir-se em casa. E para mim, isso é estar com a Irina e o Santiago. Seja onde fôr. There's no place like home. And home is us.