20/05/2013

"VOU ÀS COMPRAS, JÁ VOLTO"


Conheço muito pouca gente que goste de ir às compras. Eu cá até gosto. Tenho um estilo muito próprio de ir às compras. Não levo lista. Não preciso. Gosto de improvisar. Chego lá, e logo se vê. Gosto de escolher o que vou comprar com calma. Ainda esta última vez, estive uns 15 minutos a escolher uma escova de dentes. Afinal durante os próximos meses vamos ter uma relação de intimidade e gosto de ter a certeza do que levo. Gosto de comparar produtos. Por exemplo, comparar valores nutricionais dos cereais. E de perceber que o Rice Crispies para os putos é melhor que o Fitness. Gosto de apreciar os layouts dos rótulos das garrafas de vinho e refletir sobre os nomes deles. Cabeça de Burro, Periquita, Post Scriptum, Defesa. Entretenho-me também com os nomes dos produtos de cosmética. Baba de caracol, veneno de serpente, cáca de escorpião. Tudo coisas que pelo nome vê-se logo que só podem rejuvenescer. Gosto de ver a originalidade nas campanhas de promoção. Como um tampão-tester da OB na secção de higiene feminina. Pelo caminho, por entre corredores, vou tirando fotos. Das coisas, dos outros e de mim próprio.

Faço das compras um momento de diversão. Como uma ida a um parque temático. Há pessoas que me vêem e que ficam intrigados com o meu estilo de fazer compras. Retribuo com um sorriso enquanto seguro uma faca com lâmina de titânio numa mão e uma de cerâmica na outra. (nota: optei pela de titânio, depois de fazer uma pesquisa no google no smartphone ali mesmo). Gosto de ir àquelas secções que ninguém vai. Tipo a das colheres de pau. Tem lá as coisas mais intrigantes. Instrumentos de cozinha que não faço a mínima ideia para que servem ou como se utilizam. E tem lá coisas que eu nem sabia que precisava. Tipo, o outro dia encontrei lá um almofariz e um pistilo. Trouxe.

O hipermercado é um mundo a convidar à descoberta. Sinto-me um explorador quando vou às compras. Por exemplo, adoro descobrir roupa cool na secção de têxteis do Continente. É como descobrir uma esmeralda no meio da selva amazónica. Ou aquela espécie rara que se pensava extinta. Adoro a cara das pessoas quando me perguntam que marca é que é a t-shirt ou camisa que estou a usar e eu digo que é Continente. É notória a confusão que fica na cabeça das pessoas. "Ele está a brincar ou a falar a sério?" ou "Como é que eu nunca encontro estas coisas quando lá vou?". Gosto de tentar descobrir os produtos com o prazo de validade mais longo. Saco todos os que estão mesmo à mão de semear na prateleira e tento enfiar o braço até ao fundo para ir buscar os que estão mais lá para trás. Dá gozo criar desafios quando se vai às compras. Tipo jogos sem fronteiras. Gosto de tentar ver qual a fila para pagar que vai demorar menos. Olho para os carrinhos de compras das pessoas e vejo o tipo de produtos que lá estão dentro e as quantidades. (Dica: produtos eletrónicos dão sempre lugar a uma chamada telefónica por parte do funcionário da caixa, portanto a evitar estas filas). Gosto de tentar adivinhar o valor final das compras enquanto o senhor ou senhora vai registando. Quando chego a casa, gosto de tentar ver quantos sacos consigo pôr em cada braço e carregar da garagem para a porta de casa.

Gosto de chegar a casa com sentido de dever cumprido depois de 2 horas. Sentir satisfação de ter comprado aqueles mimos para a minha mulher e para o meu filho. Aquele queijinho que ela adora, um bom merlot para bebermos ao jantar. As bolachas dos dinossauros para o meu filho e o livro do Sid Ciência para colorir. Ahhhh, o prazer de ir às compras. A minha mulher: "trouxeste as fraldas?"............................ F#$@-se... Já volto.

15/05/2013

F#$@-SE


Estou aqui com um problema em mãos. Aqui há uns tempos atrás, regressava a casa depois de ir buscar o puto à escolinha, e apanho um gajo a vir de frente em fora de mão. Mando uma buzinadela e ouço do banco de trás "F#$@-SE". Isso mesmo. E dito com uma fonética irrepreensível. Pronúncia perfeita. Todas as consoantes e vogais bem colocadas. Acento tónico como deve ser. Espreito pelo espelho e confirmo que até a expressão facial se encontrava de acordo com o proferido. Pensei "tá boa esta. e agora?". Uns km mais à frente, sem que viesse nenhum carro, buzino novamente só para ver o que é que acontecia. Do banco de trás: "F#$@-SE" outra vez. E só pelo sim pelo não, volto a buzinar uma terceira vez. E uma vez mais "F#$@-SE". Ora estamos aqui perante um exemplo típico de condicionamento clássico de Pavlov.

Sinceramente nunca me apercebi que alguma vez tivesse dito alto e em bom som essa palavra com o meu filho no carro. Até porque desde que o meu filho nasceu, que passei de um condutor tipo Michael Douglas no filme "Um Dia De Raiva" a um condutor tipo Morgan Freeman no filme "Driving Miss Daisy". Mais ou menos. Mas pelos vistos já é um reflexo meu inconsciente que está intrinsecamente associado à buzina. F#$@-se. Mania dos miúdos nos imitarem em tudo.

Bom, agora que o mal está feito, é pensar uma maneira de o desfazer. Conhecendo o meu filho como conheço, repreendê-lo ou censurá-lo só iria reforçar o uso da palavra. Rapaz perseverante este. Portanto naquelas primeiras vezes não lhe disse nada. Fingi que não estava nem aí. Então no dia seguinte, quando o levava à escola, buzinei de propósito para induzir a palavra. E tal como esperava, aí veio ela. Fiz-me de parvo e perguntei "o quê filho?". E ele: "F#$@-SE". Eu corrigi "não filho, é pôssaras". Genial né? Tentei fazer com que ele achasse que estava a pronunciar mal a palavra, arranjando uma palavra foneticamente parecida. E de seguida disse-lhe: "queres ver? é assim... buzino... pôssaras!". "Percebeste, agora tu"...buzino... E ele: "PÔSSARAS". Ah! Consegui. Sou mesmo genial pensei eu. Repeti umas quantas vezes mais. Just to make sure. E voilá. Confundi-o e consegui que ele transformasse um "F#$@-SE" num "PÔSSARAS". Missão cumprida.

Passaram-se uns dias, e eu já me tinha esquecido do assunto, até porque o "pôssaras" tinha pegado. Entretanto estava eu acompanhado do meu filho a ver uma casa para alugarmos com um agente imobiliário. O senhor simpático a fazer uma tour da casa e de repente ouve-se uma buzina vindo da rua. E sem que eu esperasse, diz o meu filho "F#$@-SE"! Com uma fonética irrepreensível. Pronúncia perfeita. Todas as consoantes e vogais bem colocadas. Acento tónico como deve ser. Só por curiosidade, sabem o eco que faz uma casa nova vazia?
Merda para o Pavlov.

FILHO DA MÃE



Domingo passado foi dia da mãe cá em casa. Celebramos o dia da mãe no 2º domingo de maio e não no 1º, de resto como na maior parte dos países do mundo. E ainda bem, porque no 1º domingo de maio, aqui o pai estava fora em trabalho. O dia já todos sabemos é simbólico. Porque para não fugir ao cliché habitual, dia da mãe é todos os dias. Não fazemos nada neste dia que não façamos nos outros dias. Exceto uma lembrancinha do filho da mãe.

O filho da mãe este ano ofereceu à mãe uma medalha de bom comportamento, que apesar de ser um conceito relativo, não deixo de concordar. Pondo as coisas em perspectiva, acho que o comportamento da mãe vai muito além do bom. Eu diria que é uma mãe do caraças. Gira todos os dias, estilo único, raça lutadora, garra vencedora, mulher cheia de carisma e carácter. Como eu disse, uma mãe do caraças. Esta mãe aguentou uma porrada de dias seguidos acamada num hospital a fazer nº1 e nº2 para um penico sem nunca se queixar. Aguentou comida de hospital durante mais de um mês. Segura as pontas sempre que o pai do filho as enrola ou as desata. Nunca entra em pâncio em situações de crise e nunca entra em crise quando o pai do filho entra em situações de pânico. Tem sempre um sorriso para dar, seja ele de amor ou ironia. É bem evidente o quanto o filho da mãe gosta dela. E não é pra menos. O filho da mãe tem uma sorte do caraças em ter uma mãe assim.

E agora que já ganhei o direito a não fazer nada em casa durante a próxima semana, fica a fotografia do filho da mãe com a mãe a fazerem o que melhor fazem. A brincarem juntos. Tipo furacão. Aliás, tipo tempestade perfeita.

Nota de última hora: Aparentemente hoje é o dia internacional da família (obrigado Joana pela lembrança). Portanto, feliz dia da família para nós.