10/04/2013

"VOU ATIRAR UM PAU"




Esta foi a frase lançada pelo meu filho hoje a caminho da escola. Ia a conduzir quando do banco de trás voa esta frase. "Vou atirar um pau". Olhei pelo espelho para ele e perguntei "hã?" Ao que ele responde enquanto olhava contemplativo pela janela do carro "vou atirar um pau". Intrigado e sem saber de onde vinha esta ideia, perguntei "Vais atirar um pau? Porquê?". Responde o pequeno: "Vou atirar um pau à cabeça do gato". Aí percebi tudo. Aquela clássica música infantil começava a dar frutos. Eu respondi "Não filho, não se atiram paus. Nem às pessoas, nem aos animais e nem mesmo aos gatos". Ele ainda reiterou "Sim, sim". Mau maria, pensei eu para mim. Tenho aqui trabalho pela frente.

Depois de algum trabalho psicológico digno dos melhores negociadores da CIA (tipo o gajo do filme Zero Dark Thirty), consegui instalar alguma dúvida na cabeça do meu filho sobre a necessidade e propósito de espancar um gato na cabeça com um pau. Mas deixem-me dizer que não foi fácil. O rapaz é determinado. E depois de ouvir tantas vezes a música "Atirei o pau ao gato" e de inclusive ver os desenhos num livro sobre a mesma história, julgo que o plano dele estava bem definido. Vou ter de dar algum tempo para o miúdo esquecer a história antes de o levar a casa de amigos com gatos.

Entretanto isto fez-me pensar nesta história do que é melhor para os nossos filhos. Reclama-se que a televisão é muito violenta e os desenhos animados de hoje são isto e aquilo. E que antes não era assim. Permitam-me que discorde. Eu vi muita porcaria na TV quando era puto. Cresci a ver o Tom & Jerry e o Coyote & Roadrunner mas nunca tentei meter dinamite na comida de ninguém. Vi os filmes Shining e Sexta-Feira 13 com 7 anos mas nunca desatei à machadada a ninguém. Tudo vai da forma como nós adultos filtramos a informação que os miúdos recebem. Eles vão sempre ser expostos a coisas boas e más, a mensagens positivas e negativas. Foi sempre assim. E será sempre assim. E sei que pode ser cliché e que todos sabemos isto, mas somos nós a filtrar essa informação e dar-lhes as ferramentas para que eles tomem as decisões mais certas possíveis, ou pelo menos, as menos erradas possíveis. Desde que essa ferramenta não seja um pau para atirar à cabeça de um gato.