17/04/2014

NÃO É AMOR E UMA CABANA, É SEXO E UMA DESPENSA.


Sexo. Tão bom. E tão tabu ainda. Dá gosto falar. Dá ainda mais gosto fazer. Mas sexo quando se tem um filho de 3 anos em casa. Difícil. Muito difícil.

Quando um amigo uma vez me disse "pá, esquece lá isso. quando fores pai vais ver que durante uns tempos não se passa nada", achei ridículo. Disse-lhe basicamente "ahahah. arranja-se sempre maneira".
Em parte eu tinha razão. Temos arranjado sempre maneira. Mas porra que tem sido difícil. O que era espontâneo, livre e intenso passou a ser uma missão estratégica, calculada e vá, intensa. É quase uma operação militar. Daquelas ultra-secretas. Explico.

Antes de ter filhos é tudo às claras. É quando se quer, quando apetece, onde se quer, como se quer e durante o tempo que se quer. Basicamente o céu é o limite.

Depois de ter filhos, o limite está em todo o lado. E de repente é preciso uma estratégia. E aqui entra a táctica militar das forças especiais. Sexo passa a ser assim:

  • Primeiro passo é adormecê-lo. Parece fácil. Mas não é. Aliás, é das merdas mais difíceis que alguma vez tentei. Adormecer um puto de 3 anos devia ser um teste obrigatório para astronautas e assim. Já tentámos de tudo. Luzes apagadas, luzes acesas, ler histórias, com iPad, rezar, implorar, chorar. Só nos falta experimentar o livro "Go The Fuck To Sleep". A maior parte das vezes acabamos nós por adormecer na cama dele enquanto ele volta para a sala. Mas nas vezes que ele adormece, sinceramente, até me emociono quando penso nas vezes que o conseguimos adormecer.
  • Com ele a dormir passamos ao segundo passo. Esperar que ele entre em fase REM. Aquele sono profundo quando começam com aqueles espasmos na cara e os tremeliques nas mãos. Esta fase é importante, porque dá maiores garantias que o miúdo não acorda e se depara com os pais em pleno porno ou em cenas difíceis de explicar sem a ajuda de um livro de yoga. Então ficamos muito quietos na sala. TV em mute. As luzes todas apagadas. Muito quietinhos. À espera. Como dois ninjas. Até ao momento que tenho de me levantar para ir à cozinha e me esqueço que tenho os comandos da TV no colo. E espalham-se pelo chão da sala com um tremendo estrondo. Pilhas a rolarem pelo soalho. F#$a-se. A seguir acontecem uma de duas coisas. Ou ele acorda e voltamos ao 1º passo. Ou ele não acorda e seguimos com o plano. Enquanto as pilhas rolam pelo chão, esperamos pacientemente que elas parem e ficamos à escuta. Há um movimento no quarto dele. Mas continua a dormir. Ufff. Passamos à fase 3.
  • Nesta fase tentamos decidir o melhor sítio. Sentamos no chão com uma lanterna na mão e com uma planta da casa e estudamos as hipóteses. Tem de ser um sítio onde a probabilidade de sermos apanhados é menor. E que dê tempo de recompôr e disfarçar caso ele acorde e vá à nossa procura. Os primeiros sítios onde os putos procuram os pais quando acordam são o quarto dos pais, a sala, os wc e a cozinha. Então resta-nos a despensa, os roupeiros, a varanda ou terraço e a garagem. A varanda ou terraço dá visibilidade aos vizinhos. E apesar disso ser um turn on para alguns, não me apetece fazer shows públicos. Portanto, risca. A garagem significa que tínhamos de saír de casa e deixá-lo a dormir no quarto. Há quem faça coisas dessas, mas nós não. Por isso, risca. Sobra a despensa e os roupeiros. Como os roupeiros estão naturalmente cheios de roupa, dificulta a mobilidade. E como eu gosto de poder me mexer à vontade e à larga, risca. Sobra a despensa. Ora a despensa. A despensa é um sítio interessante. Depende de casa para casa, é certo, mas apesar de ser um sítio relativamente apertado tem prateleiras e caixas e cenas que o tornam interessante. A verdade é que quando chegamos a esta fase, sinceramente já me estou a cagar para isso. A nossa libido já acha tudo erótico.
  • E passamos à fase boa. Ora isto é tal e qual as missões secretas militares. Todas a fases em silêncio e modo stealth para culminar num ataque repentino, intenso e rápido. {err, calma, rápido entre aspas}. O rasgar da roupa, o frenesi, a respiração ofegante, tudo com pausas a cada 2 minutos para tentarmos perceber se ele continua a dormir. Qualquer som põe-nos em estado de alerta: tum, tum, tum... -"espera, pára... tás a ouvir?" -"Estou. Parecem passos... Ah, não, esquece. É o meu coração a bater". E recomeça o frenesi. Ah, e orgasmos são um problema. Parece mentira eu estar a escrever uma coisa destas. Mas são. Por isso é sempre bom ter um pano à mão para tapar a boca na altura. Mais um ponto a favor da despensa. Normalmente há panos à mão. 

É assim. Sexo quando se tem um filho de 3 anos em casa. Giro, né. Não é coisa que se fale muito por aí. Como se os pais fossem seres assexuados. Mas não somos. Muito muito longe disso. Portanto agora expliquei eu. Adormeçam-nos. Tenham a certeza que eles dormem. Encontrem uma despensa. E tenham um pano à mão.

Façam o que fizerem, sejam criativos. Mas não deixem de o fazer. Make love people.

09/04/2014

"IT WAS THE BEST THING THAT EVER HAPPENED TO ME"

O Dr. John Kitchin era um neurologista. Era.
Tinha uma mansão, um ferrari, dinheiro. Uma carreira de sucesso enquanto médico. Isso era antes.
Hoje é feliz.

{para quem conhece San Diego e o sul da Califórnia, é fácil perceber como se chega a uma decisão destas}



Realizado por Josh Izenberg. E uma macheia de prémios.

07/04/2014

UM HERÓI CONSEGUE QUALQUER COISA


Desde que comecei este blog, tenho tentado ser o mais honesto possível. Nos meus pontos de vista. Nas histórias que escrevo. Aquilo que sou como pai está aqui reflectido.

E apesar de receber grandes elogios à minha maneira de ser pai, a verdade é que estou longe de tomar sempre as decisões mais acertadas. Longe de ser o pai perfeito, se é que isso existe. Sou muitas vezes um bom exemlpo para o meu filho, mas sou outras tantas um modelo a evitar. Afinal de contas sou humano. Ao contrário do que o meu filho acredita. Tenho arestas a limar e mais não sei quê. Limitações.

Mas a verdade é que adoro o meu filho. À partida é o que se espera de um pai. Mas olho para ele não só como meu filho. Biologicamente falando. Olho também como uma pessoa que admiro. Que respeito. Com quem aprendo. Com quem partilho. Um amigo. Um melhor amigo. Olho para ele como um herói de carne e osso. Olho para ele como alguém que juramos ser capaz de mudar o mundo, como já disse uma vez. E não é no sentido que é isso que espero dele. Como os pais que esperam que os filhos sejam perfeitos e exigem deles o inexigível. Nada disso. É no sentido que é isso que acredito. Uma fé um pouco ingénua movida por uma admiração incondiconal. O amor que tenho por ele é o que modera essa fé. O que quero dizer é que eu enquanto pai acho que o meu filho é capaz de tudo. Mas não é por isso que vou exigir dele tudo.

O contrário também é mais ou menos verdade. Já percebi que para o meu filho de 3 anos eu sou capaz de tudo. Sou o herói de carne e osso. A pessoa capaz de mudar o mundo. De tal forma que uma das coisas que ele me diz com frequência é "pai, quero qualquer coisa". Juro. Ele diz-me isto assim. Quero qualquer coisa. Pronto. Acha que eu sou capaz de saber o que é qualquer coisa. E que sou capaz de lhe dar qualquer coisa quando ele quer. Eu pergunto-lhe o que é qualquer coisa. Ele responde simplesmente "qualquer coisa pai". Como quem diz, "vá, desenmerda-te. tu és o meu pai. eu sei que consegues".
Acha que eu tenho tantos poderes, que me pede para passar à frente os anúncios de TV quando quer continuar a ver um programa. Não é fácil explicar-lhe que não consigo. Que temos de esperar.
Acha que sou capaz de fazer parar a chuva para irmos para a rua andar de skate.
Que sou capaz de fazer andar o carro quando estamos presos no trânsito.
Mas aos poucos ele começa a perceber que também não pode exigir de mim tudo. Que sou humano. É assim a vida. As tais limitações. Arestas a limar. Seja como fôr, e apesar de conhecermos as limitações um do outro (eu mais as dele do que ele as minhas), continuamos a jurar que somos capazes de mudar o mundo. Continuamos a olhar um para o outro como heróis. Eu cá não tenho dúvidas. Sei porque já o vi a mudar o mundo. O meu.

03/04/2014

OLÁ & OBRIGADO


Poucas coisas irritam-me.  > pausa <  Quem é que eu estou a enganar. Muitas coisas irritam-me. Mas uma das coisas que me irritam mais é a falta de educação. Quando falo de falta de educação, não falo de palavrões nem "etiquette" à mesa nem formação académica. Falo de duas palavras em particular que muita gente nesta terra tem dificuldade em dizer. "Olá" e "Obrigado".

A  mais recente escola do meu filho tem sido uma boa surpresa. Sinto que o meu filho tem crescido no sentido correcto, aprendido muito e bem, e tem sido respeitado e acarinhado. As educadoras muito competentes. Em todos os sentidos. No sentido técnico e humano. Não podia estar mais satisfeito.

Também faço questão que o meu filho, apesar dos três anos, seja educado e respeite todos. Colegas, educadoras, senhoras da limpeza e pais. Faço questão que ele se despeça todos os dias das educadoras. E faço questão que se despeça também dos colegas com um "até amanhã amigos" colectivo. Também já reparei que sou o único pai a pedir ao meu filho para se despedir dos colegas. E isso leva-nos ao ponto que quero chegar. A má educação e falta de civismo de alguns pais dos colegas do meu filho é para mim difícil de assimilar. Já era assim também na anterior escola dele. Alguns pais antipáticos, arrogantes, de cara fechada, mal-educados. Uns parolos portanto. Dois exemplos:

Ex. 1: O outro dia estava a chover. E bem. Tinha deixado o meu filho na escola de manhã e estava a saír pelo portão da escola, quando reparo que vem uma mãe com o seu filho (colega do meu) no passeio para entrar. O portão da escola tranca automaticamente quando se fecha, sendo obrigatório tocar na campainha e esperar que através da videovigilância alguém lá de dentro o destranque. Por isso, e como estava a chover muito, fiquei a segurar o portão, à chuva, para que a mãe e o seu filho entrassem logo sem terem de estar à chuva à espera que alguém lhes destrancasse o portão. Quando eles estão a chegar ao pé de mim, eu digo-lhes bom dia de sorriso na cara. Qual não é a minha surpresa quando a mãe passa por mim com o seu filho, entra pelo portão que eu estava a segurar, à chuva, sem me dizer nem bom dia nem obrigado. Fiquei ali com cara de otário, tipo porteiro, a pingar à chuva.

Ex. 2: Ontem estava a entrar na escola do meu filho e cruzo-me com a mãe de 2 miúdos. Que só por acaso, já conhecia de vista do meu tempo de liceu. Ofereci um olá, e ela, de mão dada com os seus 2 filhos, olhou para mim e virou a cara e seguiu. Sem olá nem nada. Um exemplo do caraças para os filhos.

Estes são só 2 exemplos. Porque a falta de civismo de alguns pais dos colegas do meu filho é seriamente impressionante e constante. São muitas as vezes que passam e não cumprimentam. Muitas as vezes que são incapazes de oferecer um obrigado quando seguro a porta e os deixo entrar primeiro. Muitos os que estacionam os carros em cima da passadeira em frente à escola porque são incapazes de estacionar um pouco mais à frente e andar 10 metros. E não há um que eu tenha visto que diga ao filho ou à filha para se despedir dos colegas. Que são os seus companheiros e amigos do dia-a-dia.

Vivi muitos anos nos EUA. São isto e são aquilo. Mas o espírito de comunidade e fraternidade mete-nos a um canto. E não é só nos bairros pequenos. Até em cidades como NYC. Em geral, as pessoas têm sempre uma palavra amiga para dizer. Um olá. Um sorriso. Um obrigado. Um por favor. Um com licença. Uma piada.

Aqui, bom, é a merda que se vê. Curiosamente aqui, quanto menos "diferenciada" é a pessoa, mais simpática e educada é. Vivi em Alfama uns anos e aquela gente mais simples é de uma simpatia e educação incríveis. Já os meninos licenciados de pais endinheirados que por lá viviam eram uns verdadeiros estupores.

Mas voltando à história, e porque quero que o meu filho entenda bem e perceba a diferença entre o que é correcto e o que não é, vou passar a usar os exemplos de má educação dos pais dos colegas dele para lhe mostrar o que não deve ser feito. Portanto a próxima vez que um pai ou uma mãe passar por mim e não me devolver um olá ou um obrigado, vou dizer alto e no momento "vês filho, isto é má educação. Não deve ser feito. Devemos sempre responder olá e dizer obrigado. A todas as pessoas".


Nota:
Apesar de alguns pais mal-educados, também os há muito educados e simpáticos. Eles sabem quem são. E os outros também. Aos educados e simpáticos quero dizer olá e obrigado por serem um exemplo de cidadania para os vossos filhos e para os filhos dos outros. Para os que não são, quero dizer olá e obrigado por serem um exemplo do que não ser e evitar fazer. Afinal, também servem para alguma coisa.