31/01/2014

"ESCOLHE UM IOGURTE"


- "Filho, vens com o pai?"
 - "Siiiiim"

É a resposta sempre que vou às compras agora. Comecei a levar o meu filho às compras comigo. Vamos os dois. Achei que seria boa ideia. Assim juntava o útil ao agradável. Fazia as compras, passávamos tempo juntos e ainda o ensinava umas coisas.
Se eu já demorava a fazer compras antes, agora isto tornou-se numa epopeia. Saímos e vamos direito ao hipermercado. Pelo caminho espeto com o CD dos Clash. O dos Ramones ardeu juntamente com o meu último carro. Cantamos pelo caminho. Chegamos e estacionamos. Dou-lhe uma moeda, pego-o ao colo e deixo-o destrancar o carrinho de compras. Meto-o lá dentro e aí vamos nós. Ele leva a lista na mão. Olho para ele no carrinho e parece um comandante na proa de um veleiro. Primeiro vamos à secção dos brinquedos. Despachar o assunto. Deixá-lo mexer em tudo. Depois de agarrar em todos os brinquedos e de os estudar meticulosamente, volta a metê-los nas prateleiras. Sem birras nem choros. Nisso sempre foi assim. Sou capaz de o levar ao Toys R'Us e sair de lá sem lhe comprar nada sem stress nenhum (só aconteceu uma vez na loja da Disney mas não quero falar sobre isso). Adiante. Depois da secção de brinquedos, vamos ao que aqui viemos. Vamos direito à secção de frutas e legumes. Lá ensino-o a escolher, ao mesmo tempo que lhe ensino os nomes e as cores. Courgettes, cenouras, alho francês, tomates. Morangos, bananas, laranjas, maçãs. Deixo-o pôr nos sacos. Ele adora. É metódico e exigente a escolher fruta e vegetais. Agarra nas peças, encosta-as ao nariz e dá-lhes uma snifadela. Depois de cheirar, lambe-as para perceber o sabor. Não se preocupem. A gente leva todas as que ele lambe. E quanto aos micróbios que possam estar na fruta, esses não têm hipóteses. No worries. Depois vamos à carne e ao peixe. Na peixaria, vou-lhe mostrando os peixes todos em exposição. Vou-lhe ensinando os nomes. A seguir vamos aos iogurtes. Escolho os que quero. E depois deixo que ele escolha uns que ele queira. Normalmente já sei se ele vai gostar ou não dos que escolhe. Mas isso pouco me interessa. Levo-os na mesma. Porque quero que ele perceba que nem tudo o que parece bom é. E nem todas as escolhas que fazemos são as acertadas. E começa-se assim. Com iogurtes. Fazemos o resto das compras e vamos para a caixa. Deixo que seja ele a enfiar o cartão MB na máquina e retirá-lo. Vamos para o carro. Compras no porta-bagagens. E vamos até mais 2 supermercados, porque não faço as compras todas no mesmo. E a cena repete-se. Chegamos a casa com sentimento de dever cumprido.

Porque é que interessa isto tudo? Porque um dia vou-lhe perguntar "filho, vens com o pai?" e a resposta dele não vai ser "siiiiiim". Porque o tempo que passamos com os filhos às vezes é escasso. E temos que fazer o melhor com esse tempo. Porque pequenas lições hoje serão grandes valores amanhã. E pode se começar já hoje com iogurtes.

QUERER É CRER


"Então e se o teu filho não for isso tudo que tu queres?"
"E se ele quiser seguir um caminho diferente do que planeaste?"
"Não és tu que tens de decidir por ele."
Bla, bla, fucking bla.

Sim, quero que o meu filho cresça com valores. Sim, quero que ele tenha bom senso, seja responsável, fiel aos seus ideais. Sim, quero que ele aperte a mão tanto a uma celebridade como a um sem-abrigo. Sim, quero que ele admire tanto uma mulher como um homem. Sim, quero que ele seja corajoso. Sim quero que ele respeite e se faça respeitar. Sim, o meu filho será o que ele quiser ser. Seguirá o caminho que ele quiser. Será surfista ou skater se quiser. Será blogger ou escritor se quiser. Será mergulhador ou mineiro se quiser. Será o que quiser. E é verdade que só a vida e o futuro irão revelar se o meu filho foi tudo aquilo que eu quis.
Mas isso não me impede de eu querer o melhor para ele.

27/01/2014

QUEM EU?


Aconteceu uma coisa extraordinária recentemente. Este espaço que criei para falar da minha experiência e perspectiva de pai foi visitado 250.000 vezes este fim-de-semana. Não foi obviamente nem intencional nem esperado. A razão não foi das melhores. O assunto era e é triste. Mas a verdade é que muita gente ficou por cá pelas outras coisas que escrevo. Naturalmente fico orgulhoso e agradecido.
Recebi alguns dos mais incríveis elogios, que devo dizer deixaram-me um pouco atordoado. E sinto que tenho de esclarecer o que eu sou realmente, não vão as pessoas ficar com uma imagem minha que não corresponda à realidade. Isto vai ter de ser com pontos, portanto aqui vai:

  • Sou teimoso comó caraças. Eu chamo-lhe determinação. E às vezes chamo-lhe preserverança. Mas vamos deixar-nos de merdas. É teimosia mesmo.
  • Acordo cedo demais. Sou daqueles que se levanta antes dos candeeiros de rua se desligarem. É verdade que às vezes dá jeito aos outros. Por exemplo ao fim-de-semana a minha mulher pode ficar a dormir até mais tarde enquanto eu ponho o puto na sanita, preparo-lhe o PA e andamos à luta de almofadas na sala. Mas outras vezes reconheço que é chato ter um gajo a perguntar às 7:30 da manhã de um sábado "o que é que queres fazer hoje".
  • Tenho fraca tolerância à frustração. Para mim riscar o vidro do relógio é o equivalente a cair um meteorito na casa. Fiz psicoterapia e agora estou melhor. Agora riscar o vidro do relógio é o equivalente a cair um meteorito no carro.
  • Contesto tudo. Ou seja, sou um chato do caraças. Claro que se fosse nos anos 60, era considerado um ícone revolucionário. Mas nos tempos que correm, sou um chato do caraças mesmo.
  • Digo demasiados palavrões. E às vezes em frente ao meu filho. E em várias línguas. É terrível eu sei. Mas por outro lado ele vai estar preparado para conduzir em qualquer país do mundo.
Páro aqui. Tinha mais para dizer, mas se digo tudo, vou começar a perder seguidores. O que quero dizer no fundo é que sou um gajo com dois lados. Um bom e outro mau. Defeitos e virtudes como todos. Tal como me descrevo, sou um pai sem os pés no chão. Por isso, também cometo erros na forma como sou pai. Mas há uma coisa que é inegável. O amor pelo meu filho. E esse é o meu melhor lado.

23/01/2014

CARTA ABERTA A UM DUX


Dux:

Ando aqui com esta merda entalada há já algum tempo. A ouvir as diferentes versões, a pensar nas dúvidas e a pôr-me no lugar das pessoas. Tento pôr-me no lugar dos pais dos teus colegas que morreram. Mas não quero. É um lugar que não quero nem imaginar. É um lugar que imagino ser escuro e vazio. Um vazio que nunca mais será preenchido. Nunca mais, Dux. Sabes o que é isso? Sabes o que é "nunca mais"?

A história que te recusas a contar cheira cada vez mais a merda, Dux. Primeiro não falavas porque estavas traumatizado e em choque por perderes os teus colegas. Até acredito que estivesses. Agora parece que tens amnésia selectiva. É uma amnésia conveniente, Dux. Se calhar não sabias. Ou então andas a ver se isto passa. Mas isto não é uma simples dor de cabeça, Dux. Isto não vai lá com o tempo nem com uma aspirina. Já passou mais de 1 mês. Continuas calado. Mas os pais dos teus colegas têm todo o tempo do mundo para saber a verdade, Dux. E vão esperar e lutar e espremer e gritar até saberem. Porque tu não tens filhos, Dux. Não sabes do que um pai ou uma mãe é capaz de fazer por um filho. Até onde são capazes de ir. Até quando são capazes de esperar.

Vocês, Dux... Vocês e os vossos ridículos pactos de silêncio. Vocês e as vossas praxes da treta. Vocês e a mania que são uns mauzões. Que preparam as pessoas para a vida e para a realidade à base da humilhação, da violência e da tirania. Vou te ensinar uma coisa, Dux. Que se calhar já vai tarde. Mas o que prepara as pessoas para a vida é o amor, a fraternidade, a solidariedade e o civismo. O respeito. A dignidade humana e a auto-estima. Isso é que prepara as pessoas para a vida, Dux. Não é a destruí-las, Dux. É ao contrário. É a reforçá-las.

Transtorna-me saber que 6 colegas teus morreram, Dux. Também te deve transtornar a ti. Acredito. Mas devias ter pensado nisso antes. Tu que és o manda-chuva, e eles também, que possivelmente se deixaram ir na conversa. Tinham idade para saber mais. Meco à noite, no inverno, na maior ondulação dos últimos anos, com alerta vermelho para a costa portuguesa? Achavam mesmo que era sítio para se brincar às praxes, Dux? Ou para preparar as pessoas para a vida? Vocês são navy seals, Dux? Estavam a preparar-se para alguma missão na Síria? Enfim. Agora sê homenzinho, Dux. E fala. Vá. És tão dux para umas coisas e agora encolhes-te como um rato. Sabes o que significa dux, Dux? Significa líder em latim. Foste um líder, Dux, foste? Líderes não humilham colegas. Líderes não "empurram" colegas para a morte. Líderes lideram por exemplo. Dão o peito e a cara pelos colegas. Isso é um líder, Dux.

Não sei o que isto vai dar, Dux. Não sei até que ponto vai a tua responsabilidade nesta história toda. Mas a forma como a justiça actua neste país pequenino não faz vislumbrar grande justiça. És capaz de te safar de qualquer responsabilidade, qualquer que ela seja. Espero enganar-me. Vamos ver. O que eu sei é que os pais que perderam os filhos precisam de saber o que aconteceu. Precisam mesmo, Dux. É um direito que eles têm. É uma vontade que eles precisam. Negá-los disso, para mim já é um crime, Dux. Um crime contra a humanidade. Uma violação dos direitos humanos fundamentais. Só por isso Dux, já devias ser responsabilizado. É tortura, Dux. E a tortura é crime.

Sabes, quero me lembrar de ti para o resto da vida, Dux. Sabes porquê? Porque não quero que o meu filho cresça e se torne num dux. Quero que ele seja o oposto de ti. Quero que ele seja um líder e não um dux. Consegues pereceber o que digo, Dux? Quero que ele respeite todos e todas. Que ele lidere por exemplo. Que ele não humilhe ninguém. Que seja responsável. Que se chegue à frente sempre que tenha que assumir responsabilidades. Que seja corajoso e não um rato nem um cobardezinho. Que seja prudente e inteligente. E quero me lembrar também dos teus colegas que morreram. Porque não quero que o meu filho se deixe "mandar" e humilhar por duxezinhos como tu. Não quero que ele se acobarde nem se encolha perante nenhum duxezinho. Quero que ele saiba dizer "não" quando "não" é a resposta certa. Quando "não" pode salvar a sua dignidade, o seu orgulho ou até a sua vida. Quero que ele saiba dizer "basta" de cabeça erguida e peito cheio perante um duxezinho, um patrãozinho, um governozinho ou qualquer tirano mandão e inseguro que lhe apareça à frente. É isso que eu quero, Dux. Quem o vai preparar para a vida sou eu e a mãe dele, Dux. Não é nenhum dux nem nehuma comissão de praxes. Sabes porquê, Dux? Porque eu não quero um dia estar à espera de respostas de um cobarde com amnésia selectiva. Não quero nunca sentir o vazio dos pais dos teus colegas. Porque quero abraçar o meu filho todos os dias da minha vida até eu morrer, Dux. Percebeste? Até EU morrer. EU, Dux. Não ele.

20/01/2014

LIFE ROLLS ON


Adoro skateboarding. Ando desde pequeno. Entrou na minha vida antes do surf. Em 1980. Nos States. Tinha eu 5 anos. O skate era de um amigo. Era vermelho e fininho, tal como os skates eram nessa altura. Meti-me em cima dele sozinho e comecei logo a rolar devagarinho à primeira sem caír. Nesse mesmo dia fui ganhando cada vez mais confiança. E andando cada vez mais rápido. Até que me espalhei ao comprido. E aprendi a minha primeira lição. A primeira que o skate me ensinou. Porque quase tudo o que precisamos de saber na vida, o skate ensina. Ensina-nos a ter equilíbrio. Ensina-nos que alguma vez vamos ter de caír. Que é inevitável. E que temos de nos levantar. Que se desce mais rápido do que se sobe. Descer é fácil. Subir custa mais. Que às vezes temos que nos empurrar para andarmos para a frente. Que é importante ter um pé à frente e outro atrás. Ensina-nos que confiança, determinação e commitment nos levam longe. Mas que confiança a mais nos pode levar ao chão num abrir e fechar de olhos. Ensina-nos que os obstáculos fazem parte da vida. Mas que servem um propósito. E que podem ser divertidos. Se os encararmos como um desafio. Se os soubermos contornar e ultrapassar. E que o conseguimos. Com equilíbrio, confiança e determinação. Com commitment. Mesmo que para isso seja preciso cair algumas vezes. Ensina-nos que não devemos parar. Que devemos continuar a rolar pela vida fora. Às vezes mais depressa. Outras vezes mais devagar. Umas vezes focados com os olhos na estrada. Outras vezes mais descontraídos a apreciar o vento na cara. E que o vento na cara sabe a liberdade. E que a liberdade nos faz feliz. E isso é o que procuramos na vida.

Pus o meu filho em cima de um skate com 2 anos. Hoje com 3 ele já anda. Já aprendeu algumas lições. Mas ainda tem muitas para aprender. Tem a vida toda pela frente. Ele ainda não o sabe. Mas tudo o que ele vai precisar de saber na vida, ele já está a aprender. Em cima de um skate. Porque parece que estou só a ensiná-lo a andar de skate. Mas o que estou a fazer é ensiná-lo a viver.

Música aqui.

*Nota: Commitment não tem propriamente uma palavra equivalente em português. É mais que compromisso. É empenho. É determinação. É dedicação. É vontade. Tudo numa só palavra.




17/01/2014

E VÃO 40


"Ah e tal o Brad Pitt fez 50 anos"... 'Tá bem. A Kate Moss fez ontem 40 anos. Para mim, ela é das mulheres com mais pinta à face da terra. De uma beleza natural incrível. Um carisma do caraças. Um estilo inconfundível de meter inveja. E fez 40 anos. É polémica sim. Diziam que era magra demais. Foi responsabilizada pelo estilo "heroin chic". Afundou-se em droga e alcóol durante uns tempos. Fotografou nua. Foi largada pelos estilistas quando a polémica com a droga estalou. Caíu na fossa. Saíu da fossa. Votada das mulheres mais sexys e influentes do mundo. Várias vezes. Fez um dos melhores pole dances que já vi no teledisco dos White Stripes. Foi fotografada pelo duo Mert Alas e Marcus Piggott para a Playboy. Mãe de uma menina. 40 anos não lhe fazem moss(a). É polémica sim. Mas eu gosto de mulheres polémicas. Como a minha mulher poderá confirmar. Low-profile não faz o meu estilo. Parabéns Kate. You are a fucking icon.

02/01/2014

BLOGS I F#*KING LOVE: AQUELA FOTO DE FAMÍLIA


Bom 2014 para todos e todas. Cá estamos no princípio de mais um ano. Para começar bem vou partilhar mais um dos blogs que mais adoro. É um blog de auto-ajuda que me consegue sempre pôr para cima quando estou a ter um dia de merda. Ou mesmo quando estou a ter um dia muita bom. Faz-me sempre pensar que tenho a família mais normal do mundo. E faz-me entender porque é que os álbuns de fotos de família dos anos 80 tinham quase sempre aqueles cadeados ou fechaduras. Acho que os anos 80 tiveram muita coisa boa, como podem atestar cada vez que me apanham no Tokyo ou no Jamaica, ou quando dá o Top Gun ou o Family Ties na TV. Mas as fotos de família não foram definitivamente do melhor que se fez nos anos 80. Os cadeados que vinham incorporados nos álbuns de fotografia são prova disso. Aquilo eram coisas para se manter fechadas e trancadas para a eternidade. Abrir um álbum daqueles é abrir uma caixa de pandora. O incrível é que todos nós temos algumas pérolas destas. Por algum motivo, as nossas famílias tinham todas um sentido de estética, criatividade e conceito fotográfico que desafiava qualquer filme do Tim Burton ou do David Lynch. E deixavam-se convencer por fotógrafos de estúdio irreversivelmente queimados por demasiado LSD e 70's Disco. O blog Awkward Family Photos é o testemunho dessa insanidade. E meu Deus como é bom. É clicar em cima da foto que já vão ver.