27/06/2014

IT'S IN THE HEART


Se há coisa que eu odeio é ataques de pânico. A sério. A primeira vez que tive foi há 10 anos. Em 2004. Estava eu a comprar casa com a minha ex-namorada. Podia ser um sinal. E se calhar foi isso. A verdade é que a relação não durou e foi uma puta-de-dor-de-cabeça conseguir vender a casa. Parece que estava a adivinhar. Se calhar foi isso, se calhar não foi. Sei lá eu. Mas foi aí que começou. Na altura, achei que tinha um problema no coração. Fiz ECG, ecocardiograma, prova de esforço. Tudo com bons resultados. Sou um gajo normalmente saudável. Tenho o colesterol a 165. Triglicéridos a 57. Tensão arterial 110/65. Tudo bom. Faço desporto. Como saudável. Então só podia ser da minha cabeça. Fiz psicoterapia. Resolvi as questões pendentes da minha infância. Meti para trás das costas a vez que passei por cima das minhas irmãs com um triciclo. Fiz paz comigo mesmo e aprendi a pôr os pés em cima do sofá sem medo. Calçado e tudo. Tudo tratado. E nunca mais tive. Até 2010.

Estava a minha mulher grávida na altura e íamos para a ecografia morfológica. Aquela que dizem que é a que detecta possíveis malformações. Ia no carro e fiquei com os 2 braços completamente dormentes. O meu coração disparou e eu estava convencido que ia ter uma paragem cardíaca, AVC, angina, amigdalite, diarreia e morte súbita e tudo ao mesmo tempo. Pensei que não ia chegar a conhecer o meu filho. A minha mulher grávida teve de levar o carro. Bonito. Quando chegámos, entrámos na sala, e enquanto assistia à ecografia e vi o meu filho através do monitor, comecei a acalmar. Tudo passou. O meu coração abrandou. E a sensação do fim iminente foi substituída por uma calma de paz.

Entretanto nunca mais tive. Até esta semana. Tive uma arritmia súbita com taquicardia em que o meu coração passou de 60 BPM para 140 BPM no espaço de 1 segundo (medi com uma app que tenho no iphone que se chama Instant Heart Rate. Vale a pena). Apareceu do nada. Estava eu a tomar pequeno-almoço com a minha mulher. E de repente abrandou novamente. Quem já sentiu isso sabe o quanto é assustador. E isso despoletou um ataque de pânico. Ontem à noite tive outro. Fui correr ontem à noite e quando cheguei o meu coração continuava a um ritmo que eu achava ser acelerado demais. Como ainda estava assustado com a arritmia do dia anterior, pumba, ataque de pânico outra vez.

Estes ataques de pânico são aterrorizantes. Confesso que fico com medo. Não com medo de morrer, porque sinceramente, acho que morrer de morte súbita deve ser a mais fácil e menos dolorosa. Um gajo desmaia, apaga e pronto, está feito. Não é de morrer que tenho medo. É de nunca mais ver o meu filho. É não estar cá para ele quando ele precisar de mim. É não poder abraçá-lo mais. Nas vitórias e nas derrotas. Ou simplesmente nos momentos em que me apetece. É a vontade assombrosa de estar com ele a cada passo da vida. É imaginar a angústia e sentimento de perda que lhe causaria eu não estar cá. Isso é o que me assusta até aos ossos. E então no meio do meu ataque de pânico, levantei-me e fui me sentar ao lado dele enquanto ele dormia. Encostei a minha cabeça na dele e fiquei a ouvi-lo respirar. A dormir. Em paz. E comecei a acalmar-me. E cheguei à conclusão que o problema pode ser da cabeça mas a solução está no coração. Não preciso de terapia nem medicação nenhuma. Só preciso dele. E tudo passa.

{Pelo sim pelo não marquei consulta de Cardiologia com um especialista em arritmologia. É que quero estar cá para vê-lo ganhar a medalha de ouro por Portugal nos X Games}

14 comentários:

  1. Com elas conheci os meus maiores medos (sim o de me perder ou perdê-las) e a minha maior paz. Um abraço dele cura-tudo ajuda muito.

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  2. Oh... que texto tão lindo... Miss Caco também já teve ataques de pânico. Poucos, é certo, mas suficientes para querer fugir deles como o Diabo da Cruz. Os meus foram despoletados pelo fim de uma relação. Curiosamente, também tinha acabado de comprar um apartamento com o ex-companheiro, dando-se o azar de viver num T2 no rés-do chão do mesmo prédio e ele ter decidido mudar-separa o T3 que tínhamos acabado de comprar, dois andares acima, com a nova companheira. Hoje rio-me disto, mas na altura, assim que chegava a casa, não era propriamente a rir que metia a chave na porta. Fico à espera da foto do teu filhote a segurar a medalha de Portugal nos X Games. Entretanto, boa sorte para a consulta!:-)

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  3. Os meus pais morreram os dois de doença muito novos. Fiquei sem pai aos 10 anos e sem mãe aos 28. E sim, atormenta-me a morte, mas tal como tu, não é a ideia de eu morrer, mas sim de as minhas filhas viverem algo semelhante ao que eu vivi. Isso sim, assusta-me verdadeiramente. É tudo o que não quero para elas...
    Por isso este post fala-me tão perto do coração e é também com o meu que acalmo todos os pensamentos catastróficos que por vezes passam pela minha cabeça e corpo e tenho de olhar para elas e pensar: 'está tudo bem'!

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  4. :) Sei do que falas! ...
    É assustador, senti a primeira vez o mês passado… excesso de trabalho ou coisa parecida, não faço a menor ideia. Mas o que é certo é que passou e foi uma coisa estranha.
    Os nossos filhos são o remédio para muitos males! ;)

    Gosto de ler o teu blogue, Parabéns!

    http://kitmulheres.blogspot.pt

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  5. Entendo-te muito bem, sinto o mesmo com os meus filhos, precisam tanto de mim e já passaram por uma perda familiar grande...às vezes penso como já passaram por esse processo de perda não irá acontecer nada comigo pois simplesmente não pode. Certamente estará tudo bem contigo! Força aí!

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  6. o medo intolerável de nunca mais os sentirmos, culpa daquele cordão umbilical que nunca se há-de quebrar. esse teu cordão vê-se e sente-se tão bem.

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  7. Sei bem que o é, na teoria e na prática. Mas ninguém morre de ataques de pânico. "Simplesmente" sofre-se como o caraças. O nosso corpo é inteligente e dá-nos sinais quando alguma coisa não está bem. Um ataque de pânico pode ser muito útil quando temos de tomar decisões importantes e ouvir aquela voz interior que teimávamos em negar. Outras vezes, o nosso corpo é um pouco burro e aprende a fazer associações desnecessárias. Campainhas, alertas, onde não deviam existir porque está tudo bem. Quando ficamos absolutamente certos de que o pânico não nos vai provocar nada de fulminante, é quando os sintomas diminuem. Mais facilmente te cai uma árvore em cima do que tens um AVC ou ataque cardíaco com origem no pânico ;)

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  8. E é tantas vezes um filho que nos agarra à vida...espero que tudo se resolva na tua cabecinha e no teu coração, para que continuem a disfrutar-se juntos, tu e o teu menino.

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  9. "Acho que precisas de um abracinho" é o que me diz o meu filhote de 6 anos quando me vê triste e não é que me põe a sorrir no rosto e na alma.
    Adoro o escreves... és um pai "inteiro".

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  10. Outro post "na muche"! Há uns dias para cá que ando a pensar nessa coisa da morte, de morrer, deixar de existir, desaparecer, caput, the end..... Há anos que não reflectia sobre isso, mas recordo ser miuda e acordar do sono ou ficar pregada à cama, apavorada, com essa ideia da morte. Do mundo seguir e eu nunca mais ver nada. Nunca. Nada. Depois isso nunca mais voltei a pensar nisso (e inclusive cheguei a desejar -e tentar- morrer, numa fase mais negra da minha vida. Agora voltou. Agora com o meu filho. Passei a cuidar de mim, na tentativa (e esperança) de me preservar mais uns anitos, para estar com o meu filho, vê-lo crescer, tornar-se homem, quem sabe, vê-lo tornar-se pai um dia? (e faço as contas à idade em que o tive -tardia-, pensando nas probabilidades de tudo isso poder acontecer....)....

    De ataques de panico só sei o que ouço de relatos de outras pessoas, ou do que estudei na faculdade, felizmente, mas dessa angustia, conheço-a em primeira mão!

    Tal como o amor por um filho, felizmente tb me foi possibilitado conhecer..... <3

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  11. Emocionaste-me.
    Maravilhoso texto. Promete que continuas por aqui.

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  12. Emocionaste-me até ao tutano. Obrigada*

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  13. Desde os 15 anos que comecei a ter... era muito intenso, ao inicio era algo como uma convulsão de epilepsia, tinha diversos sintomas.. é algo muito incapacitante... Cheguei ao extremo de achar que ia morrer e então, não andava em nada nos parques de divertimentos, por ex. nos carrinhos de choque porque, achava que o meu coração não aguentava...Mas ainda hoje chego a não conseguir sair de casa "com medo do medo" de voltar a acontecer... Andei 2 anos em tratamentos, a fazer fisioterapia, psicoterapia entre muita coisa...Fiz imensos exames e andava de médico em médico. Não recuperei totalmente, mas melhorei significativamente.

    Quando referes que trataste dos problemas da infância é, uma grande verdade.. os problemas estão connosco mas, por vezes só são desencadeados os sintomas mais tarde... eles surgem mas nem damos por isso, apenas quando se torna assim... intenso... Procurar ajuda é de facto a melhor coisa a fazer.

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  14. Venho partilhar a minha experiência contigo, e tal como foi contigo, assim é comigo " Apareceu do nada. Estava eu a tomar pequeno-almoço com a minha mulher." A primeira vez estava precisamente a ter uma conversa com uma amiga bem acompanhada de um chá. Nos instantes que se passaram fiquei imóvel e muda! Branca! Não me saiu uma palavra, enquanto a minha amiga tentava perceber na minha cara assustada o que se passava.
    Sempre me aconteceu em situações de repouso, e outro episódio estava sentada no sofá com a minha irmã. Ainda fui a tempo de lhe por a mão no meu peito. Ela não percebeu como era possível. Parecia que o coração ia colapsar. A quem nunca sentiu, posso dizer que o ritmo não se compara mesmo em situações de muito esforço. É muito muito mais rápido, assustador mesmo. Com o tempo perdi mais o medo, não fui ao médico. Talvez porque vem tão rápido como vem. Felizmente não tem aviso, nada, ansiedade não é boa amiga.
    Um coração assim, só pode ser de um sonhador, de alguém apaixonado pela vida!

    Parabéns pelo blog ;)

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