16/06/2014

YES WE CAN


Durante anos vivi nos EUA. Lá aprendi algumas coisas. Uma delas foi no desporto, mas que podemos transportar para a vida. Aprendi a lutar até ao fim. Nunca desistir. Jogar para ganhar. Ser mais forte, mais rápido, mais resiliente. Acreditar. Superar-me. Essa é a filosofia do desporto nos EUA. De uma forma geral.

Não sei se está bem ou mal, mas foi assim que cresci e é assim que sou. E é isso que quase inconscientemente passo ao meu filho. Ainda no fim-de-semana passado tive essa conversa com o meu cunhado. A propósito dos X Games* que aconteceram na semana passada, comentei de forma séria que o meu filho iria ser o primeiro português a ganhar uma medalha de ouro nos X Games na categoria de skate. Não sei se me levaram a sério. Acho que não. Mas o que eu disse foi sério. Porque foi assim que aprendi a pensar. O meu filho faz 4 anos este ano. Mostra ter um jeito natural para skate. E a maneira como penso começa a ver-se nele. Na última ida ao skatepark, quis ir para uma rampa. Não era uma rampa qualquer. Uma rampa que até eu não conseguiria fazer. Uma rampa 5 vezes o tamanho dele. Foi difícil conseguir convencê-lo que ele ainda não está preparado para isso. Que é preciso ele treinar mais. E crescer mais. E que precisa de ajuda para isso. Na cabeça dele, ele consegue. Ponto final. Consegui demovê-lo. Por agora. Mas isto para mostrar o que a determinação e confiança fazem. E os americanos são exímios nisso.

Recentemente li um artigo interessante a propósito do Mundial de futebol 2014. Era sobre a selecção americana. Mais especificamente sobre uma das grandes falhas e handicaps da selecção de futebol dos USA: a dificuldade e imperfeição da simulação das faltas. O artigo explica como culturalmente o americano aprende que simular uma falta é sinal de fraqueza. Aliás, sofrer uma falta e ficar no chão a rebolar é sinal de fraqueza. Simulá-la é sinal de fraqueza e cobardia. Aprende-se que aguentar uma falta e não caír é sinal de valentia, bravura e força. E por isso, a selecção dos Estados Unidos estará sempre em desvantagem num desporto em que a simulação da falta faz parte do jogo e faz não poucas vezes a diferença entre ganhar e perder. Já vimos isso acontecer umas quantas vezes neste mundial, a começar logo pela penalidade do Brasil contra a Croácia. Eu cá gosto de futebol. Não sou de entrar em picardias da bola como muita gente que não percebe um boi de futebol. Gosto de futebol, como gosto de muitos desportos, mas gosto de ver um bom jogo. Jogado. Até ao fim. Sem faltas e faltinhas, e sem homens de 1.80m a rebolarem no chão como bebés agarrados às pernas quando mal lhes tocam. Gritam como crianças e arrastam-se pelo relvado de cara no chão como se lhes tivessem amputado uma perna a sangue frio. É triste. Mas é futebol. Não vejo isso noutros desportos. E muito menos vejo isso em atletas americanos. Que aprendem desde pequenos a jogar e nunca caír mesmo quando levam porrada a sério.
E ainda em relação ao Mundial, quando passaram um questionário em vários países a perguntar aos respectivos cidadãos quem é que achavam que ia ganhar a taça do mundo, a grande maioria das pessoas de vários países dividiam-se entre Alemanha, Brasil, Argentina, Espanha. Sabem o que responderam a grande maioria dos americanos? USA.

Eu cá, por exemplo, sou o unico do meu círculo de amigos e colegas que acha que Portugal vai ganhar. Não é ganhar à Alemanha. É ganhar o campeonato do mundo. Trazer a taça. E sem querer estou a passar essa forma de pensar e "jogar" ao meu filho. No skate, na bola, na vida. Acreditar que vai ganhar. Não que pode ganhar. Mas que vai ganhar. Lutar até ao fim. Acreditar. Nunca desistir nem jogar para empatar ou para o 2º lugar. A ser mais forte, mais rápido, mais resiliente. Não se fazer de coitadinho. Não enganar. E é assim que quero ver a minha selecção hoje. E é isso que eu quero que o meu filho veja hoje naqueles 11 portugueses em campo. Ou à americana, "Bring that fucking cup home already".

*Para quem não sabe, os X Games são uma espécie de jogos olímpicos de desportos de acção, e que incluem entre muitas modalidades o skate.

5 comentários:

  1. Também gosto de futebol, também detesto falcatruas seja no que for: jogos, vida, ...e , ainda mais, a desculpabilização das mesmas.

    Competitividade em demasia também não faz muito o meu género, mas desde que quem a valoriza não atropele ninguém e chegue por mérito próprio aos seus objectivos , aceito.

    Pelo que vi hoje no jogo, não me parece que o seu e meu desejo se concretize, mas não é de perder já a esperança nem a vontade!

    O que eu não perdoo são os comportamentos sempre muito pouco correctos, para ser branda, de Pepe.Que, desde a agressão feita a um adversário em Espanha, deveria ter sido irradiado, na minha opinião.

    Tudo de bom para vós.

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  2. Faz um video com essas palavras e faz com que todo Portugal as oiça!!! Palavras sábias!!!

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  3. Acho que as pessoas têm medo de dizer que acreditam porque não sabem lidar com a falha. Quando aceitamos a falha, torna-se muito mais fácil não ter medo de confiar. Também acredito que somos o espelho deles e se temos receio que eles não sejam capazes, então eles também começarão inconscientemente a sentir precisamente os mesmos medos. E não basta dizê-lo verbalmente. Quantos pais encorajam com palavras mas o corpo denuncia-os quando não acreditam verdadeiramente.

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  4. Eu também gosto muito de futebol e acredito no poder das pessoas, na determinação e na vontade. Cresci a ver futebol bairrista, a ver a luta no campo, corpo a corpo, com suor e lágrimas. É disso que gosto, não daquele jogo que é feito fora das 4 linhas. Eu sei que futebol também é isso, mas prefiro acreditar no poder da vontade. É isso que tu tens e é isso que temos em comum. Acreditar até ao fim.*

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  5. Desde que li isto há uns dias que me mentalizei que íamos ser eliminados pelos USA. E assim nem estou chateada, ahah. Carreira de bruxedos vários a surgir no horizonte? :) keep going with the nice writing!
    Mi

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