05/12/2014

NÃO DANCES NÃO


Fui uma vez à Primark. Faz hoje quase 1 ano. Nunca mais esqueci. Ou melhor, nunca mais esqueci que fui, mas não me lembro muito bem do que aconteceu lá. O meu cérebro entrou em complete shutdown. Mas lembro-me bem que quando saí de lá disse à minha mulher que nunca mais lá entrava.

Mas quis o destino que não fosse bem assim. Então há cerca de uns meses, voltei lá. Fui ao engano. A minha mulher disse-me, "ah e tal, tiveste azar com a hora e o dia da outra vez. Experimenta lá ir a uma hora em que as pessoas estão a trabalhar. Vais ver que está tranquilo". Fui. Acreditei nela. Acreditei mal. Eram 11h00. Saí de lá às 12h00. Tudo para comprar um fato do Spider Man que o meu filho embirrou que queria. Estava esgotado. Ainda assim demorei quase 1 hora lá dentro. Não sei o que se passa com aquele sítio. Mas para mim entrar lá é como ser largado em plena Amazónia sem GPS e sem nada. Jurei daquela vez que nunca mais.

Quis o destino que não fosse assim outra vez.
Quis o destino que o meu filho tivesse que dançar uma música nesta próxima festa de natal da escola. Quis o destino que para isso, tem que ter um chapéu à Gene Kelly. Quis o destino que a única loja que tem um chapéu desses na península ibérica é... Primark.

Agora... disseram-me que era preciso o chapéu faz hoje 3 semanas. E disseram-me que na Primark havia. Eu tentei de tudo para não lá ir. Fui a dezenas de outras lojas. Procurei no Porto e em Lisboa. Em Sintra e em Cascais. Tentei encomendar pela Amazon. Eu estava disposto a gastar 30€ num chapéu que a Primark vende por 4€. Mas o dia D chegou. E eu sem chapéu.

Quis o destino que eu voltasse a pôr os pés na Primark.
Tentei planear isto de forma estratégica. Pensei "vou escolher uma Primark mais afastada. Uma que não dê para ir de transportes públicos. Elimino logo a percentagem de pessoas que não usam carro." Depois pensei "agora vou escolher uma hora em que as pessoas ou estão a trabalhar ou a caminho do trabalho no meio do trânsito. Assim elimino logo a percentagem de pessoas que trabalham." A minha concorrência seriam apenas as pessoas desempregadas ou de férias com carro. Sou genial pensei eu. E fui. Determinado a trazer o chapéu.

Quis o destino que a quantidade de gente desempregada ou de férias com carro é impressionante. F#$a-se, mas porquê?! Bom, é cerrar os punhos e entrar.

Entrei. Passados 5 minutos estava perdido. Não conseguia encontrar a secção de criança. Até que vi uma senhora com um carrinho de criança e seguia-a. Como quando um gajo vai atrás da ambulância que abre caminho no meio dos engarrafamentos. Lá cheguei à secção. E lá estava o chapéu. Agarrei nele e pus-me a correr por entre roupa e cabides que nunca mais acabavam. E lá encontrei as caixas para pagar. Uma fila, mas uma senhora fila. Porra. "Deus, por favor, ajuda-me, só mais esta vez" pedi eu de olhos postos no céu. Mas Deus tinha outros planos para mim. Depois de 10 minutos na fila e quando faltavam 2 pessoas para chegar a minha vez, olho para o chapéu e reparo que não tem etiqueta. Começo a tremer e a revirar o chapéu à procura de uma merda de um código de barras. Nada. Só instruções de lavagem. Olho para cima, para o céu, "Really Deus? Really?".

As cenas que se seguiram são tão tristes que não vou falar nelas. Só quero esquecer. Como tive de sair da fila e voltar lá à secção de criança que já nem me lembrava onde era outra vez. Como aquele chapéu era o único sem etiqueta e claro que foi o que tive de agarrar. Como tive de voltar a meter-me na fila para pagar que estava maior ainda do que da última vez. Como me perdi e não dava com a saída e só via os olhos tresloucados das pessoas que vagueavam por entre cabides a bater contra tudo e todos. Só quero esquecer.

Mas saí da loja com o chapéu à Gene Kelly de 4€. Sentei-me num banquinho a descansar. E a jurar com todas as forças que nunca mais. E juro, se o meu filho não arrasar na festa de natal e dançar como o Justin Timberlake com a porcaria do chapéu, vou viver para o meio de uma selva no Camboja como o Marlon Brando no Apocalypse Now.

26 comentários:

  1. Acontece-me isso no El Corte Inglês. Aquilo é um autêntico bruxedo. O pior é que se compro lá um chapéu igual ao teu tenho de lhe meter mais um zero à direita.

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    1. Havia no Corte Inglês?! Damn!

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    2. Não entendo o que leva alguém a comprar no El Corte Ingles. TUDO é mais caro e não é pouco, é estupidamente! Um dia esse filão dos espanhóis vai terminar... o povo, mesmo o mais snob e com poder de compra, vai preferir outra moda qualquer.

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  2. ahahah, muito bom. E olha que só fui à Primark duas vezes, e sim, aquilo deixa qualquer pessoa perdida, nas prateleiras e filas de cabides, na fila para pagar e no cheiro, não sei ao que cheiram aquelas roupas, mas que é estranho, é:D
    E depois ainda há aquele pensamento, um chapéu, 4 euros, como é possível?

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    1. 4€. True story. Quero acreditar que eles compram em muita muita muita quantidade para terem preços tão baixos e que não há cá cenas de trabalho precário e infantil.

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  3. ahahah. tão bom! ri-me tanto! Pai sofre :P, mas eu vou à Primark muitas vezes sim, o namorado pensa mais ou menos como tu e já chora só de saber que vai lá.

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  4. Também jurei o mesmo. Entrei durante cinco minutos e comecei a ficar com imensas dores de cabeça e uns calores horríveis. Aquilo é um sítio do demo.

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  5. LOL, o que me ri com esta descrição :)
    Realmente a Primark não é para toda a gente, eu acho que as mulheres têm um sexto sentido para se orientarem em zonas comerciais, não todas, mas quase todas. A Primark é ótima para testar essa capacidade de orientação e a paciência com a espera para pagar.

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    1. não é para mim. nada contra a loja que até tem algumas coisas porreiras, mas não é para mim. é como se foss a IC19 em hora de ponta, mas sem separador no meio. no thanks. :)

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  6. Eu não quero ser má ou agudizar o teu estado pós-traumático, mas se tivesses continuado na fila, chegado à tua vez e a menina da caixa não conseguisse passar o chapéu, iria chamar outra menina, que iria ela mesma ao sítio do chapéu fazer a troca, fazendo todo o circuito de obstáculos, buscar outro exemplar, enquanto tu aguardavas junto ao balcão com um sorriso amarelo na cara a fazer conversa de circunstância para matar o tempo.

    Quanto a tudo o resto, a tua mulher tem razão, e preciso saber escolher e certamente todo este relato está corrompido pelo facto de seres homem.

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    1. Cláudia Cláudia, a dizer uma coisa dessas a um gajo como eu que arregaço as mangas para lutar pela igualdade de género. Vou te explicar porque é que isso não aconteceu. Eu pensei nisso mas previ o seguinte filme: A gaja vai ao telefone. Fica 5 minutos a ligar sem que ninguém atenda. Ela começa a bufar. Eu começo a bufar. Lá a outra pessoa atende. A funcionária vem buscar o chapéu primeiro. Devagar devagarinho. Depois vai à secção agarrar outro. Devagar devagarinho. Enquanto isso a funcionária da caixa pede-me para aguardar de lado. Enquanto eu vejo centenas de pessoas a passarem-me à frente. Eu transtornado, impaciente, arritmias e mais não sei quê. Achei que me despachava mais rápido se fosse eu a fazê-lo. Só isso. Quero acreditar que achei bem. :)

      Ah, se assim não fosse, não tinha história para contar.

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  7. O que um pai não faz pelo filho... Adorei!

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  8. Pés,
    Chapelaria Azevedo Rua, no Rossio.
    Não te garanto é que lá compres nada a 4€...

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    1. Agora já está Menino. Valeu pela dica. Para a próxima já sei. Não me importo de pagar mais. Ajudo o comércio local e poupo o stress pós-traumático.

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  9. Ah, ah, ah muito bom! Por acaso sempre comparei essa loja aos casinos. Uma pessoa entra, não vê a saída, não vê a luz do sol, só vê expositores por todo o lado...é um verdadeiro labirinto! Grande pai

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  10. Como já foi dito acima, sinto exactamente o mesmo com o El Corte Ingles. Fico logo com comichões só de entrar no parque de estacionamento. O-d-e-i-o. Nem o cinema se safa! haha

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    1. eu cá adoro aquele parque de estacionamento. quem precisa da feira popular?

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  11. Aahahah! Eu só conheci a Primark faz uns dias. Entrei lá (com muita paciência) e saí, sem comprar nada, "aterrorizada" com a quantidade de pessoas e as filas para pagar na caixa de CINCO zig-zags. Podia jurar que tinha escolhido uma boa hora e um bom dia mas qual quê! Estava apinhado. Voltei dois dias depois, vi o fato do homem-aranha, do pirata Jack, de tudo e mais alguma coisa e já foi possível andar um bocadinho melhor. Na hora de experimentar a roupa nos trocadores, oh diabo! Tinha fila... então achei melhor (já que ia precavida com camisola justa) experimentar camisas mesmo ali, entre cabides, roupas e espelhos. O CHATO desta ideia (que jamais tive antes) é que todos os GAJOS que fingem estar dentro da loja a aguardar as respectivas, gostam de se por a jeito para ver as mamas de uma gaja! Não importa se é boa ou não, mamas são mamas. Acho uma "porcarísse". GAJOS deviam ser banidos, 90% não vão lá para comprar chapéus para os filhos, mas já que lá estão e as mulheres despem seus casacos (LOL) toca a ver melhor!

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    1. não tinha ideia que aquilo era o Crazy Horse do homem pobre. mas também estive preocupado demais em sobreviver para prestar atenção aos outros homens lá dentro. aquilo é "every man for himself". :)

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  12. Já te ocorreu imaginar o que a Primark faz de RECEITAS???
    Eu ADORARIA ser uma mosquinha para saber.... Só empregados têm uns 50 numa loja! 30 para as caixas automáticas.... é só euros a cair, ao segundo. Dá para imaginar o TOTAL??? E isto é por dia, imagine-se agora ao fim de 30, no final do mês!

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