01/12/2014

I RUN BECAUSE...


Antes de correr ser moda eu já corria. Agora que é moda, continuo. Mas para mim correr não é só mexer as pernas depressa. É muito mais que isso. Não me vêem em minis, nem meias. Maratonas entenda-se. Não corro maratonas, nem color runs. Não corro por causas, nem por festas, nem por medalhas. Não corro por convívio. Quando corro não quero conviver. Não quero falar. Não quero ouvir ninguém. Não quero gente à minha volta. O único barulho que quero ouvir é o planeta a rodar. A única respiração a minha e a do meu cão. Por isso corro a horas e em sítios onde encontro o que quero e onde não encontro o que não quero.
Em pé às 6 da manhã para ir correr com o meu cão no meio do escuro e ver o amanhecer a caminho de casa. Com o risco de parecer exagerado, é poético. Quando o despertador toca às 5h45 de Dezembro, não há merda nenhuma que me apeteça mais. Excepto talvez vomitar. Mas levanto-me. Lavo os dentes. Visto a minha roupa de correr à prova de frio matinal de Dezembro junto ao mar. Bebo um copo com água e limão. Sans sugar. Because I'm bad ass. O cão já está sentado a olhar para mim à espera. Man's best friend. Sabe para o que vamos. Meto os headphones, beanie, fecho o casaco até cima e saímos os dois. Corremos no meio do escuro 4 km. O mundo está parado a essa hora. Pelo menos neste nosso caminho. Passo a passo, somos nós dois, o mar e os corações a baterem ao som das ondas. Olhos a chorarem do frio. Chegamos a Ribeira de Ilhas e paramos para cheirar o mar, porque ver ainda não dá. Dou-lhe uma festa. Sinto-me vivo. Sangue a correr. Pulmões a engolirem o ar do mar. Começa a clarear por trás de nós. Devagar devagarinho. Respiro fundo e fazemos mais 4 km de volta a casa. O dia começa a amanhecer e é das coisas mais incríveis de se ver acontecer. No meio da penumbra encontro-me. É como se tivesse Deus à beira da estrada a torcer por mim e a dar-me uma garrafa de água, a dizer "vai miúdo, força". Recarrego baterias e todo esse bla bla habitual. Já a chegar a casa estamos os dois de língua de fora. Eu e o cão. Mas de peito cheio. Tão cheios de vida e de paz. Antes de entrar, ainda na rua, páro para apanhar o fôlego, enquanto olho o horizonte. Viro-me para o cão e sorrio. Ele retribui o sorriso, agachado enquanto larga 3 tarolos jeitosos. Depois de apanhar o fôlego, apanho os tarolos. São 7 da manhã. O que um gajo faz para o cão não cagar em casa. Há melhor maneira de começar o dia?

5 comentários:

  1. Ahhahhahah! Brilhante. Parabéns pela coragem:-)

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  2. Não deve haver de certeza!
    Só me falta o cão!

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    1. Eu já tenho o cão...e se soubesse a quantidade de tarolos que apanho....! Agora isso de levantar cedo, correr, apanhar frio... tenho uma certa dificuldade... Mas ter o cão já é um bom começo, não é?!!

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  3. Brutal, gostei especialmente do "Because I'm bad ass" e do fim do post :-).

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